Costuma-se dizer que os verdadeiros pilares das instituições são as pessoas. Isto é, o que torna um lar, uma instituição e, em última análise, um país verdadeiramente grandioso está directamente relacionado com a valia das pessoas que lhes estão associadas. E é sobre a "grandiosidade" do País de Gales (e, por arrastamento, de toda a Grã-Bretanha) que vos quero escrever hoje: as pessoas.
Antes de mais, uma pergunta que ressalta de imediato a quem visita estas paragens: quem são na verdade os nativos, os Britânicos? Existe pelas ruas uma tal diversidade de etnias, idiomas, tribos, dialectos ... que se torna muito difícil saber quem são os nativos (acreditem, é mesmo complicado por vezes!). Só para terem uma ideia no meu Departamento existem no corpo docente 2 ou 3 professores britânicos e os outros, cerca de 20, estrangeiros, de todos os continentes! Então imaginem os alunos de Doutoramento... (a começar por mim, não é?)
Vou porém dedicar-me neste pequeno espaço apenas aos britânicos (sejam eles ingleses, galeses, escoceses e (norte-) irlandeses). Ao longo de muitos anos todos crescemos com um certo número de pré-concepções acerca do povo britânico. E ao longo deste meu "exílio" tenho vindo a constatar a veracidade (ou não veracidade!) de algumas delas.
Um dos "clichés" mais habituais associados ao povo britânico é a pontualidade. Quanto a isso, nada a dizer, são de facto seres extremamente focados em que tudo aconteça na hora certa, na ordem certa. Os autocarros são um exemplo disto: muito raramente se atrasam e fazem mesmo quando necessário algumas "paragens" mais prolongadas apenas para se manterem no horário previsto em todas as paragens subsequentes (caso estejam adiantados, evidentemente).
Outra coisa que torna os britânicos famosos é o chá, ou melhor, a "hora do chá". Constatei que realmente há como que uma "religião" do chá... há chá seja ao inicio da manhã, a seguir ao almoço ou "à hora do chá" - tipicamente às 16 horas. Faltam é os "scones", pelo menos os tradicionais ingleses! Visto que aqui existe a chamada bolacha galesa que, no fundo, é o "scone" galês (mas não tem nada a ver!!). Ah, e claro, também tomam o "café" da praxe..."café" entre aspas, pois claro, pois ele é inenarravelmente mau! Graças a Deus trouxe Delta de Portugal! ;)
A bolacha galesa tem pequenas porções de uvas-passas (ou "coríntios", como lhe quiserem chamar)
Existe também a ideia que os britânicos são, regra geral, muito bem educados e tem um charme e humor frescos, um certo politeness (talvez uma ideia proveniente de personagens como o 007 de Sean Connery). Pois aqui é que as coisas mudam um pouco de figura! A "regra geral" torna-se "excepção" e o bom humor anda dissimulado (em estado de embriaguez não conta!!).
Apesar dos motoristas de autocarro serem muito bem educadinhos ao saudarem e agradecerem o serviço aos passageiros, são simultaneamente capazes de não deixar entrar alguém que chegue um "cagagésimo" de segundo atrasado à paragem ou que queira entrar 2 metros após a paragem, caso o veículo já tenha retomado a marcha.
Um outro exemplo da forma de ser dos britânicos (isto quando estão sóbrios, reforço!!) é o facto de muito frequentemente ignorarem o "próximo": entra-se numa sala/gabinete e nem uma nem duas...não está lá ninguém! Para já não falar das duas ou três vezes que já me deixaram com a mão estendida...cultura ou má educação, fica ao vosso critério!
A (falta de) limpeza dos britânicos afinal não é hábito exclusivo dos que vemos todos os anos no Al(l)garve...é algo generalizado mesmo! Senão vejam: recolhas de lixo reciclável quinzenais (!) e de lixo para compostagem semanais não rimam decerto com limpeza...e aqui sim, é cultural mesmo! É também triste verificar o tão pouco cuidado e gosto que, pelo menos os habitantes de Cardiff, têm para com os espaços verdes e canteiros florais (maravilhosos!) à sua disposição! Enfim, Suíça há só uma mesmo!!
No geral, penso que a Grã-Bretanha podia ser muito "mais Grã-Bretanha". Mas ninguém é perfeito, não é?