Na última vez que vos escrevi, falei-vos das pessoas do Reino Unido e, em particular, dos britânicos (galeses, ingleses, ...). Desta vez, vou falar-vos de como é viver com pessoas em casa. Ou melhor, de como tem sido a minha experiência!
Como sabem, é muito comum quando se está fora nestas condições partilhar uma casa arrendada. Em primeiro lugar, porque arrendar um T0/T1/estúdio implica burocracias e trabalhos aos quais um estudante tipicamente não está a fim de se sujeitar. E em segundo lugar (mas não menos importante!), o dinheiro normalmente não abunda... Assim, surge a hipótese de partilhar uma casa arrendada com outros estudantes: dividem-se os custos e (supostamente) os esforços e têm-se (quase) tudo o que necessitamos: um quarto só nosso e acesso (partilhado) a casas de banho, anexos com equipamentos (máquinas de lavar, secar, ...), sala de estar e,
the last but not the least, cozinha.
Costuma-se dizer que na vida "em tudo é preciso ter-se sorte". E, neste caso, é naturalmente preciso ter-se sorte com as pessoas com quem partilhamos a casa. Pois aquilo que seria uma conveniência pode tornar-se um pesadelo: falta de colaboração nas tarefas comuns, desarrumação, barulho ... que acabam por redundar em mau ambiente e numa má experiência. Porém, apesar de nem tudo serem (terem sido) rosas, não me posso queixar muito!
No ano passado, quando cá estive cerca de um mês, partilhei a casa com quatro estudantes (2 rapazes e 2 raparigas) do Brunei! Para quem não sabe, o
Brunei é um pequeno país do Sudeste Asiático (sim, têm os olhos em bico!). Não estive lá por muito tempo, mas foi marcante dado que foi a primeira vez que saí "debaixo das saias da mãe". No geral, correu tudo bem: o quarto era pequeno, mas limpo, e a casa tinha tudo o que eu precisava por um preço bastante razoável. Os bruneanos eram simpáticos e razoavelmente sossegados e limpos. Eram daquele tipo de pessoas "se não me chateares, também não te chateio". E embora não houvesse uma "lista de tarefas rotativa" (que recomendo que façam caso venham a viver em casas partilhadas!!), as coisas correram normalmente.
Este ano, saiu-me "na rifa" uma casa com quatro mulheres: ouviram bem, quatro mulheres! Três estudantes de Erasmus (duas italianas e uma finlandesa) e uma recém-graduada (inglesa). Se por um lado, isso significaria à partida mais barulho, por outro lado talvez representasse mais limpeza e organização. Pois, mas nem sempre os estereótipos se confirmam...
Com uma certa lógica, quem deveria ter maior "responsabilidade" na casa seria a rapariga inglesa, por já ter acabado o curso e ser mais velha. No entanto, redondo engano: não havia ninguém mais desorganizado e desleixado nesta casa do que ela! Digo havia, pois felizmente ela saiu no fim do mês de Abril, para meu suspiro de alívio. Uff!! Ah, e é bom nem falar das qualidades culinárias...adiante!
Assim, durante o mês de Maio fomos quatro aqui em casa...e as coisas melhoraram um pouco mas não tanto quanto eu gostava, confesso... sem querer particularizar, a capacidade de perceber que existem outros em casa não é o forte de algumas pessoas aqui. Mas não me posso queixar demasiado, de certeza poder-me-ia ter calhado uma "fava" maior.
Agora que o mês de Junho se iniciou, temos aqui um novo inquilino, um francês. Vá lá, dizem vocês, assim fica mais equilibrado (ooooh, dirão outros de vós ;) ).
Espero que nos dias que me restam aqui, com este novo equilíbrio que vai ter de se criar, tudo corra pelo melhor. E, para mim, o melhor é muito simples. É a política dos bruneanos: "se não me chateares, também não te chateio".
O grande ensinamento retiro da vivência em conjunto nestas circunstâncias é mesmo este: viver a nossa vida, sabendo que a nossa liberdade não acaba onde a do outro começa - neste caso, a liberdade é partilhada. E só se todos souberem como a partilhar tudo poderá correr pelo melhor.