sábado, 20 de dezembro de 2014

Feliz Natal!

Quase de partida para Portugal para celebrar o Natal com as nossas famílias e visitar os amigos, não queríamos fazê-lo sem desejar a todos, e em especial à nossas famílias e amigos, um Santo e Feliz Natal e que 2015 traga Saúde, Paz e Alegria a todos vós.

Quanto a nós, despedimos de um 2014 em grande e desejamos que 2015 seja pleno de sucesso a nível pessoal e profissional!

E continuem atentos ao nosso blogue pois no Ano Novo cá estaremos novamente!

Boas Festas para todos!!


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Ely

Ely (lê-se "ili") é uma cidade muito simpática a norte de Cambridge (a meio caminho entre March e Cambridge). Cidade? Sim, não é engano!

Vista de Ely junto ao rio Ouse (fonte: visitely.eastcambs.gov.uk)

Do alto dos seus 20 mil habitantes e 60km2 de área é apenas o equivalente a "meia Bury St Edmunds". A grande razão para Ely ser uma cidade e vilas muito maiores não o serem é puramente uma questão política. As "cidades" são atribuídas por Royal Charter (Decreto Real) com base em alguns critérios mais ou menos arbitrários, mas essencialmente a presença da Catedral diocesana é o critério decisivo. A diocese de Ely cobre quase todo Cambrigeshire (excepto Peterborough, que é outra cathedral city!) e uma parte de Norfolk.

Vista aérea de Ely, com a Catedral ao centro (fonte: news.bbc.co.uk)

Ely é famosa nacionalmente pela Catedral, que é de facto impressionante. Há alturas durante o dia e ao Domingo em que não se paga, mas regra geral paga-se a admissão. Mas o bilhete é válido por um ano e inclui visita guiada (nas horas do dia em que elas estão marcadas).

Grande plano da Catedral de Ely (fonte: www.panoramio.co.uk)

Foi aqui que foi filmada a "coroação" do Rei Jorge VI no filme "O Discurso do Rei" (com o Colin Firth) e não em Westminster (onde o evento "a sério" se realizou).

Vista da entrada da Catedral (fonte: www.idps.org.uk)

Outro "momento de glória" da catedral é aparecer ao fundo na capa do álbum dos Pink Floyd "The Division Bell". O álbum em si é uma homenagem às raízes da banda, nas margens do rio Cam, bem perto de Ely.

Capa de The Division Bell (Pink Floyd), com a Catedral ao fundo entre as estátuas (fonte: wikipedia.com)

Por falar de rio, a passagem de comboio fica na memória à primeira pelo panorama criado pelos típicos barcos estreitos com a catedral em fundo.

Vista de Ely ao passar de comboio (fonte: en.wikigogo.org)

Duas histórias muito interessantes sobre Ely: sabiam que já foi uma ilha? Ely, tal como March, faz parte de uma região ainda hoje conhecida como os "Fens" (pântanos). É uma zona muito plana e baixa (abaixo do nível do mar em alguns sítios!) e até há 400 anos apenas se conseguia chegar a Ely de barco!

A ilha de Ely (Elyg) em 1071, com Cantabrigie (Cambridge) a Sul (fonte: www.jamesaitcheson.com)

Por esta altura, a Realeza, conjuntamente com o Parlamento, chamaram os holandeses (quem melhor que eles!) para "drenar" os campos (construindo um sistema de valas e canais) e foi o fim da ilha. Foi certamente um admirável trabalho de engenharia, principalmente tendo em conta a limitação de conhecimentos técnicos e ferramentas! Mas este é um trabalho contínuo: ainda hoje os "Fens" são drenados para evitar cheias.

A outra história tem a ver com uma personagem histórica: Oliver Cromwell. Apesar de constar dos livros de história, é alguém que o "sistema" vigente não gosta de dar grande atenção... Cromwell viveu dez anos em Ely entre 1636 e 1646 (quando Ely ainda era uma ilha) e a casa onde vive é agora a casa-museu Oliver Cromwell. É uma personagem algo sinistra, uma espécie de Salazar inglês no século XVII. Liderou uma das facções da chamada Guerra Civil inglesa, que culminou com a sua vitória e a consequente execução (!) do Rei Carlos I na guilhotina.

Estátua de Oliver Cromwell em Westminster, juntinho às casas do Parlamento (fonte: www.urban75.org)
Foi a vitória do parlamentarismo sobre a monarquia absoluta, em que só o Rei é que sabia e contestá-lo era um sacrilégio (dado o direito "divino" dos Reis). A partir daqui, o parlamento tornou-se o regime e de facto a monarquia tinha terminado (foi o único momento da história de Inglaterra em que não houve monarquia). Oliver Cromwell tornou-se o líder do Governo republicano mas acabou por usar a mesma "receita" dos Reis: só ele é que sabia e, no fundo, ele era como que um "enviado de Deus" para varrer a corrupção e os vícios do sistema (soa a algo familiar?). Claro está que o parlamentarismo tornou-se rapidamente ditadura militar. O "reinado" de Cromwell não durou muito e o seu fim não foi bonito (vou poupar-vos a pormenores!). A verdade é que dois anos depois da sua morte a monarquia voltou, desta vez como "monarquia parlamentar" e um novo Rei, Carlos II. Um híbrido entre as duas facções iniciais, portanto: existe o Rei, que supostamente manda, mas na verdade é o parlamento quem decide. Nada de substancial mudou no entretanto. Portanto, a partir de agora quando ouvirem a expressão "manda tanto como a Rainha de Inglaterra", já sabem como começou!
 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Fogo que queima a carteira!

Qual é a probabilidade de em Portugal alguém pagar para ir ver um banal fogo-de-artifício? E quando o valor a pagar é 7 euros para os adultos, 6 para as crianças e 22 para uma família com dois filhos? E, mais precisamente, quem pagaria estes valores (ou outros quaisquer) quando o mesmo fogo é visto do outro lado da “cerca”, a uns metros de distância, completamente à borla? Ah, e sem uma motivo de “caridade” muito concreto para justificar este pagamento. Quase zero? Bem, é o que nos parece. Mas se tivessem vindo a Bury St Edmunds no passado Sábado teriam mais uma prova de que existem diferenças culturais entre Portugal e o Reino Unido!

fonte: bury-st-edmunds.roundtable.co.uk

Cerca de sete...mil (!!!) pessoas, de acordo com os jornais locais, juntaram-se nos Abbey Gardens ao início da noite de Sábado para experienciar aproximadamente 20 minutos de fogo-de-artifício. Engarrafamentos e a quase impossibilidade de estacionar no centro provaram-nos o quão podemos ainda ser surpreendidos neste país. Ao ver aqueles preços, nunca nos passou pela cabeça aquele panorama.

fonte: buryfreepress.co.uk
Este espectáculo insere-se na tradição anual do Bonfire, que explicamos no blogue noutra ocasião. Ninguém leva o evento pirotécnico muito “a sério” (em termos de motivações) mas no fundo é uma espécie de “Dia do Orgulho Anglicano”. O que é realmente levado muito a sério é o aspecto lúdico do Bonfire. Em todos os cantos e esquinas encontramos “kits” de pirotecnia, para todos os orçamentos, para rebentar com o maior estrondo possível chegado o dia. É realmente impressionante, mesmo em pequenas vilas. Parece um ataque aéreo massivo! Perigoso? Sim, sem dúvida, pensamos nós, mas a realidade é que não se ouvem grandes preocupações com isto numa tradicionalmente "securitária" sociedade britânica!

fonte: burymercury.co.uk

Bem, mas para ser justo com o povo britânico, é muito raro ver fogo-de-artifício ao longo do ano. Vemos no Ano Novo em Londres e Edimburgo, mas pouco mais. Não é um país de “foguetes”. O que contrasta com o país do foguetório que somos, em que todas as terras e terrinhas, festas e festinhas têm de ter fogo-de-artifício para a celebração ser “como deve ser”! E então ouvimos foguetes “noite sim, noite não” de Junho a Setembro, o que diminui o “valor” dos foguetes e do espectáculo associado. É compreensível a excitação, mas daí a pagar 7 euros para ver fogo-de-artifício no céu que é de todos… ainda não estamos assim tão “british”!
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A velha York

York é uma importante vila do Nordeste de Inglaterra, capital de um dos maiores condados de Inglaterra: Yorkshire. Moram em Yorkshire (em cidades como Leeds e Sheffield) aproximadamente 5 milhões de pessoas, tantas como em toda a Escócia (!). É uma zona tradicionalmente industrial, não propriamente turística nem especialmente amigável (uma das áreas com maior taxa criminal no Reino Unido). A vertente industrial já foi bem maior e as consequências deste declínio são bastante visíveis. Mas como se enquadra a vila de York no contexto global de Yorkshire?

Perspectiva de York
York é um sítio à parte no contexto do condado. É uma pequena vila histórica, envolta numa muralha erguida no tempo dos Romanos e com raízes na invasão Viking (nesses tempos era conhecida como Jorvik). Encontramos lá também uma das mais importantes Catedrais de Inglaterra, ainda que isso não nos parecesse argumento suficiente para o elevadíssimo preço de admissão.

Catedral de York


York tem ainda uma excelente oferta de museus e é realmente preciso fazer uma selecção! Visitamos o museu ferroviário, que era de facto soberbo! Contíguo à estação de caminhos-de-ferro, contém uma quantidade e qualidade de equipamento e informação que permitiria a um verdadeiro aficionado horas e horas de deslumbre! Isto não é de todo surpreendente, face à posição pioneira que o Reino Unido teve na ferrovia e da paixão colectiva por comboios. Cereja no topo do bolo: é um museu em que não se paga admissão, logo não há mesmo desculpa para o falhar!



O museu ferroviário

Outro museu muito interessante é o Museu Viking. É um museu “vivo”, pois reflecte um trabalho contínuo de descoberta de uma vila Viking onde hoje é o centro da vila. As primeiras descobertas ocorreram nos anos 1960 e desde então muito trabalho tem sido posto na descoberta destas raízes e na catalogação dos achados. É um museu para toda a família, muito bem organizado e com muita informação transmitida de forma interactiva, o que o torna ainda mais interessante!

O museu Viking (Jorvik) - fonte: www.picturesofengland.com

O centro da vila é bastante pitoresco, plano como habitual, com ruas muito estreitinhas que fazem lembrar o Porto. A arquitectura é geralmente imponente, mas muito baseada no típico tijolo de Londres (“cor de burro”). A oferta de lojas é excelente e não fica de todo a dever às grandes cidades. Não nos pareceu uma vila cara em termos gerais, estará um pouco abaixo do nível de Cambridge.

Uma das concorridas ruas pedonais de York

Em suma, vale certamente a pena visitar York, nem que seja como ponto de passagem rumo a paragens mais nordestinas como o Lake District e a Escócia. Viveríamos lá? Bem, não se deve dizer “dessa água não beberei” mas o contexto social não é propriamente chamativo e é só por si um factor fortemente dissuasor para não morarmos por estas bandas… mas esperamos voltar um dia, quanto mais não seja para visitar os outros museus que não tivemos tempo de visitar desta vez!
 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Edimburgo

Na semana da grande decisão na Escócia, vimos falar de Edimburgo.

Estivemos lá há um par de meses e foi a nossa estreia por aquelas bandas, neste caso as Terras Baixas. E que estreia em grande!

Edimburgo é muito diferente da típica cidade britânica, a começar pelo relevo: é verdade, tem montes! E o mais alto deles está a 251 metros de altitude e chama-se "Arthur's Seat", de onde se tem uma vista priveligiadíssima sobre a cidade.

O Arthur's Seat

A arquitectura também é bem diferente: é grandiosa, imponente, quase imperial.

Vista de Edimburgo a partir do Calton Hill, com o Governo da Escócia em primeiro plano

A Royal Mile, cuja extensão é na verdade um pouco mais que uma milha, liga o Palácio Real de Holyrood (residência oficial da realeza Britânica na Escócia) e o Parlamento da Escócia ao Castelo, bem no topo da colina. Sempre a subir, pois bem! Percorrer a Royal Mile é tão fundamental como fazer o percurso Ribeira-Foz no S. João do Porto. É um percurso que espelha a cidade e o país. Um verdadeiro deleite histórico, cultural e, porque não, comercial. É a verdadeira espinha dorsal da cidade, por oposição ao habitual "town/city centre" da generalidade dos sítios na Grã-Bretanha. Esta analogia é tão mais válida se tivermos em conta que ao longo da subida passamos por inúmeras  travessas (as famosas "closes", como a Mary King's Close), que em muito fazem lembrar as ruas estreitas em paralelo e de sobe e desce do nosso centro histórico do Porto, que por momento nos faz pensar que estamos em casa.

Royal Mile

Outra perspectiva da Royal Mile ou será da Rua Mouzinho da Silveira?!

Curioso que não pudemos visitar o palácio de Holyrood visto estarem lá na altura os "Duques de Rothesay". Tradução: Carlos e Camila! Ficamos a saber que mal passam a fronteira anglo-escocesa deixam de ser Príncipe de Gales e Duquesa da Cornualha e passam a ser Duques de Rothesay...manias!

O palácio de Holyrood [Fonte: www.edimburgo.com]

O parlamento escocês é um edifício relativamente modesto. É a casa de cerca de 130 deputados  nacionais. Por outro lado, em Westminster (Londres) existem cerca de 60 lugares no Parlamento do Reino Unido de deputados escolhidos nos círculos eleitorais da Escócia, um número bastante exagerado em relação a outras regiões do (por enquanto) Reino Unido. A parte curiosa é que no caso da Escócia votar pela independência, durante cerca de um ano (até às próximas eleições legislativas) 60 pessoas de "outro país" vão votar em assuntos que só dirão respeito a outro país. Na prática isso já acontece, em face à grande autonomia que a Escócia conquistou nos últimos 20 anos: quase tudo o que é lei na Escócia é determinado por Holyrood e no entanto existem (demasiados) deputados "escoceses" em Westminster a decidir assuntos que respeitam a todos os britânicos. A ver vamos se a Great Britain continua Great ou Not So Great e passa a Little Britain (como a série da Britcom)!

Pormenor do interior do parlamento escocês (hemiciclo)

O Castelo é o culminar da Royal Mile e é uma zona fortificada formada por vários edifícios, à semelhança  do Castelo de Praga por exemplo. Infelizmente não pudemos desfrutar das vistas do Castelo visto ter estado um inclemente nevoeiro. Mas num dia de sol é sem dúvida um MUST!

Edimburgo visto do castelo no dia em que lá fomos
Vista de Edimburgo a partir do castelo num dia bom! [Fonte: www.almadeviajante.com]

É sem dúvida uma cidade cosmopolita, que respira história e autenticidade. As pessoas são realmente muito simpáticas e tivemos a felicidade de comer muito bem em todos os sítios que fomos, o que é uma raridade por estas bandas. Que pena que é tão longe senão mudavamo-nos para lá! Entretanto  aqui fica a promessa que havemos de lá voltar. Até breve Edimburgo!

Uma das muitas "closes" de Edimburgo com muitas histórias para contar.











quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Bem recebidos? Não em todo o lado...

Temos vindo a dizer a todos e até aqui no blog que o Reino Unido é um país em que em geral os estrangeiros são bem recebidos. O "em geral" tem vindo a ganhar preponderância na frase anterior, tendo em conta algumas experiências recentes.

Da passagem por Cardiff guardamos um povo afável e aberto à diversidade. A transição para March não foi fácil, como escrevemos aqui na altura, pois foi um mini-choque cultural (e demográfico, porque não dizê-lo). Ainda assim, March é um lugar que não esqueceremos e mantemos belas recordações do tempo em que lá estivemos.

Viver em Bury St Edmunds é, por assim dizer, um "meio termo" entre viver numa cidade predominantemente jovem e multi-cultural como Cardiff e numa pequena vila nas profundezas da Inglaterra rural (March). Bury St Edmunds é uma vila elegante que mantém um equilíbrio muito bem conseguido entre tradição e um estilo de vida moderno. O charme de Bury St Edmunds certamente aumentou com a presença significativa de uma (endinheirada) comunidade norte-americana, dada a presença de duas bases aéreas nos arredores.

Contudo, quando partimos à descoberta daquilo que é a East of England (Este de Inglaterra, do qual fazem parte March e Bury) já fomos deparamos com surpresas menos agradáveis, que claramente resultam do crescente clima de hostilidade em relação a todos os que não são "British". Numa das ocasiões tentamos encontrar um sitio para jantar numa terra bastante rural a cerca de 15 milhas de Bury St Edmunds, e em que nos foi dito que não havia mesa para nós. Num sítio, tudo bem. Em dois... ao terceiro acabaram-se as dúvidas, apesar do subtil toque de "politeness" à inglesa. O sotaque determinou, com certeza, e o facto de naquele dia estarmos vestidos "à Verão" também não terá ajudado.

Pensamos que este tipo de situações acontece mais em lugares rurais onde o desconhecimento e a "pequenez"  de espírito é mais evidente. Não é definitivamente algo generalizado, felizmente!

Já falamos com emigrantes como nós a viver em Londres e todos são peremptórios em afirmar o quão integrados estão e como nunca sentiram discriminação pela nacionalidade. Não é difícil de acreditar, tendo em conta o quão especial e "multi" Londres é. Contudo, lugares como Thetford e Boston são a pouco mais de uma hora de distância (muito perto para o padrão britânico) e os portugueses que por lá encontramos certamente têm uma história bem diferente para contar...

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

"Mais ou menos" ou "not too bad": Portugal e Reino Unido não parecem assim tão diferentes!

Em Portugal temos a noção que somos dos povos mais pessimistas pois frequentemente ouvimos as pessoas dizer "Como estás? Estou mais ou menos." Ou "vai-se andando".

Pois os ingleses não parecem assim tão diferentes! Quando se lhes pergunta"How are you?" geralmente respondem "not too bad", muito raramente "could be worse" e quase nunca "good, thank you. Yourself?". Mesmo que estejam de férias ou tenham recebido uma boa notícia. Seja face a face ou ao telefone (mesmo que pareçam felicíssimos ao telefone, toda a gente parece "adorar" receber chamadas!). Dizer "good, thank you" parece só reservado aos estrangeiros. O "not too bad" é mesmo um vício, aposto que a maioria dos que nos lêem e moram por estes lados concordam!

 O pior é que "not too bad" não parece querer dizer grande coisa: "podia estar pior" ou "não se vai (demasiado) mal"? São duas faces da mesma moeda que não tem necessariamente o mesmo impacto nos menos avisados (os estrangeiros, claro). A verdade é que, segundo eles, "not too bad" é suposto significar "está tudo bem". Dizem-no assim para serem muito "polite" (bem comportados) e não parecerem gabarolas ou não ferirem susceptibilidades...yeah, right!

 Nós por cá estamos sempre "good, thank you", pois se assim não fosse mais valia não estar cá!


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Particularidades de ser nativo de uma das línguas mais faladas no Mundo!

O Inglês é a terceira língua mais falada no mundo, apenas ultrapassada pelo Chinês e pelo Espanhol. Este dados dizem respeito a uma sondagem feita pelo Observatório da Língua Portuguesa, realizada em Julho do ano passado. O Português é a quinta língua, graças principalmente ao Brasil.

As 10 línguas mais faladas no Mundo (clicar para expandir). Fonte: http://observatorio-lp.sapo.pt/Grafico/10-linguas-mais-faladas-no-mundo
Isto faz com que por estes lados a população seja muito resistente a aprender uma língua estrangeira, seja ela qual for. Embora contrariados, os ingleses lá são obrigados a aprender uma língua estrangeira já que faz parte do currículo escolar britânico a aprendizagem do espanhol, francês ou alemão. Mas trata-se duma aprendizagem tão elementar que eles não são capazes de dizer o básico para conseguirem ter uma conversa mínima quando de férias em França ou Espanha. E nem com a passagem do "Tour de France" por terras de Sua Majestade este ano os ingleses se esforçaram para aprender alguns palavras pois ouvimos numa das emissões regionais da BBC Radio o seguinte: "eles falam inglês não falam, portanto porquê preocupar-nos?". Aqui fica um cheirinho do como foi vivido o "Tour de France" por estes lados.


More than one million cycling fans lined the streets of Yorkshire this morning for the historic opening stage, which saw all 198 riders line up in the centre of Leeds for the Grand Depart
"Tour de France" numa das ruas de Yorkshire. 
[Fonte: dailymail.co.uk]

A Família Real à espera de ver os primeiros ciclistas a cortar a meta.
[Fonte: dailymail.co.uk]


E depois admiram-se que os estrangeiros falem 3 línguas ou mais... sim, podemos ter sotaque, mas como disse alguém: "Se tenho sotaque, é porque falo pelo menos mais um idioma que tu!".

terça-feira, 15 de julho de 2014

Que calor!...

Diz-se que o hábito faz o monge. Depois de quase três anos por estas bandas, a noção de calor e frio muda bastante. Hoje em dia, o que em Portugal seria para nós um dia frio, aqui até dá para andar em mangas de camisa (e eles de t-shirt e calções/saia sem meias e de sandálias!). Então imaginem quando os termómetros indicam uns estonteantes... 25º C! É a loucura!

Uma das "praias" de Londres: o Green Park (fonte: standard.co.uk)

A atitude perante os 25ºC aqui é quase como se fossem 35ºC em Portugal. Até para nós parece imenso calor, mas não exageremos.  O pessoal anda aqui quase nú, o que para a maior parte do pessoal dá para ficar um camarão num instante, ou como alguns dizem aqui "roasted like a crisp".

A verdade é que nós próprios já estamos bem mais "British" do que já alguma vez fomos. Já andamos em mangas de camisa quando em Portugal andaríamos de casaco, já usamos sandálias e sapatos finos quando normalmente usaríamos botas. É mesmo uma questão de hábito e aconteceu sem pensarmos muito nisso. Há algo que não pode ser negado na argumentação: se ficarmos à espera do "bom" tempo para usar a roupa de Verão, mais vale não ter roupa de Verão! Sairia mais barato, é certo...

Roasting like crisps... (fonte: dailymail.co.uk)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

O império da quinquilhice

Um dos grandes gostos do povo britânico são as compras/vendas em segunda mão ("pechinchas", está claro), particularmente velharias.

Não há terra nem terrinha que não tenha ao Sábado ou Domingo de manhã (pelo menos!) a sua feira de segunda mão ou feira de “mala do carro”, onde literalmente o pessoal chega, abre a mala do carro e vende tudo o que tenha a mais em casa. Isto para não entrarmos no assunto das lojas de caridade (aqui chamadas “charity shops”), a que voltaremos um destes dias.
 
O mercado da Bessemer Road em Cardiff (fonte: cardifflocalguide.co.uk)
O "car boot" do aeródromo de Rougham, à saida de Bury St Edmunds

Bem, mas a grande notícia nisto é o valor que se dá a estas coisas. Isto é mesmo um mercado a sério, onde se vende de tudo e mais alguma coisa, sendo que muita dela tinham de nos pagar muito bem para comprarmos. Mas vende-se! Dá que pensar quanto valerá a quinquilharia que temos lá por casa em Portugal! Há realmente pessoas muito empenhadas nisto, que vão de feira em feira e adoram “caçar” pechinchas para depois as revenderem. Isto é bem espelhado num programa diário da BBC à hora do almoço chamado “Bargain Hunt” (literalmente “caça à pechincha”). Neste concurso, duas equipas de duas pessoas (normalmente idosos) tem de ir a feiras e lojas de antiguidades/quinquilhice comprar/”marralhar” artigos que depois vão a um daqueles leilões que mais parecem os da polícia (objectos achados/roubados). Ganha no fim a equipa que conseguir ter mais lucro com a revenda dos artigos no leilão. A “ciência” com que as compras são feitas é de estarrecer, garantidamente perdíamos para quaisquer concorrentes! É notável chegar ao fim e verificar o valor pelo qual são arrematadas certas peças que nem dadas as queríamos em casa! Mas lá está, o caixote de lixo de uns é a riqueza de outros…

É realmente algo de apreciar aquando de uma visita ao Reino Unido. Se só vierem a Londres, uma versão refinada destes mercados é o chamado mercado de Portobello Road (no bairro de Notting Hill), principalmente aos Sábados. Vale bem a pena!

O mercado de Portobello Road em Londres (fonte: tripadvisor.com)

terça-feira, 29 de abril de 2014

Doutores e Engenheiros

Um destes dias, num dos nossos empregos, a maior hierarquia da empresa baseada localmente chegou junto dos funcionários e começou a perguntar se queriam café ou chá. E lá foi e voltou com um tabuleiro cheio de “malgões” e distribuiu-os um a um. E aparentemente não espantou ninguém. Isto deixou-nos a pensar: alguma vez tínhamos visto isto em Portugal?

Sendo que não é nada de espectacular em si mesmo, é um gesto bastante invulgar em Portugal, onde se cria uma barreira ridícula entre a “plebe” e a “realeza”. Ainda que também exista hierarquia aqui e esta seja respeitada, não há aqui “Dr. X” ou “Eng. Y”, as pessoas tem nome e é esse que se usa no dia-a-dia. Um dos nossos choques da “adaptação invertida” (isto é, quando voltamos esporadicamente a Portugal) é reparar o quanto certas pessoas adoram ter um “título”, que quase parece realeza, e quantas outras chamam essas pessoas pelo título quando na realidade lhes apeteceria era chamar-lhes outra coisa… Este é um sinal cultural dos países do Sul da Europa (já nos disseram que pelo menos em Itália e Espanha é igual) e não é certamente um sinal de equidade social, que é só por si um dos pilares de um país evoluído.

Todos certamente nos lembramos do gozo que o ex-ministro Álvaro Santos Pereira levou quando insistiu que o tratassem por Álvaro. E depois, quando foi ao Telejornal da RTP, o Carlos Daniel pediu-lhe desculpa por não lhe chamar Álvaro pois “o formalismo do Telejornal não o permitia”. Mas porquê? Na verdade, ele era capaz de ser uma das poucas pessoas em posição semelhante que poderia ser justamente chamado de Doutor (porque de facto tem Doutoramento), mas não queria... é o nosso país dos “doutores”.

As pessoas tratarem-se pelo primeiro nome por aqui é das coisas que mais gostamos. Não cria barreiras (que na verdade não devem existir), sem impedir que cada um saiba “o seu lugar”. Para quando isto em Portugal?


Nota: existem certamente excepções a esta regra, tanto cá como lá (e conhecemos algumas, para os "dois lados"!!), mas após alguns anos por cá esta é a nossa percepção.
 

domingo, 13 de abril de 2014

Bury St. Edmunds: uma experiência verdadeiramente Britânica!

O Harriet's em Bury St. Edmunds

Esta imagem é de uma belíssima coffee shop que podemos encontrar em Bury St Edmunds chamada Harriet's. Podia de de muitas outras cidades e vilas tais como Cambridge, Stratford-upon-Avon, Windsor, York ou até March. Mas esta coffe shop é especial para nós e vamos neste post tentar explicar o porquê. 

Quando se pensa no Reino Unido ou em Inglaterra, uma das primeiras coisas que ocorrem é seguramente Londres. E apesar de ser uma cidade fascinante, carregada de história, imponência e vida (até demais!), não é, em nossa opinião, uma representação fiel do que é o Reino Unido ou viver no Reino Unido. Londres, até para o comum dos nativos das nossas bandas, é assim uma espécie de “ilha” dentro da própria ilha, onde tudo é em grande, para o bem e para o mal.

Porém, não é preciso andar muito para fora de Londres para perceber que a realidade do país é bem diferente. Por exemplo, quem já fez a ligação de autocarro ou comboio Londres – Aeroporto de Stansted sabe que logo ao fim de 10/15 minutos entra numa grande planície verdejante e é este o panorama até ao aeroporto. Isto resume em grande medida o que é o Reino Unido (excluindo a Escócia, que parece ser bem mais montanhosa, e partes do País de Gales): uma grande planície verdejante com algumas grandes e médias cidades pelo meio (Londres é à parte, mas também existem outras cidades bem grandes como Birmingham, Manchester e Liverpool) e salpicada de muitas pequenas vilinhas onde tudo acontece bem mais devagar. O Reino Unido é um país com uma matriz rural muito marcada, ainda que uma ruralidade bem mais instruída e evoluída do que a que o termo normalmente carrega. Se as casas são de bonecas, as propriedades são de perder de vista. Há gado por todo o lado, cavalos, coelhos bravos, esquilos… é um deleite para quem gosta de campo e de um estilo de vida mais pacato.

O Hengrave Hall
E é neste contexto que Bury St. Edmunds se insere: é uma vila de 40000 habitantes que tem um estilo rural e tranquilo mantendo quase tudo o que uma cidade precisa de ter. Tem uma zona histórica muito pitoresca, uma arquitectura tradicional bastante preservada, espaços verdes públicos muito bem cuidados e uma delimitação muito clara entre zonas comerciais e residenciais. O ambiente é bastante mais homogéneo do que em cidades como Londres (há estrangeiros, como nós, mas nota-se muito menos a mistura) e o comércio é muito mais baseado em lojas de rua independentes.

Estátua do Rei Edmundo junto aos Abbey Gardens
Panorama do centro da vila
Deste comércio independente salta à vista a quantidade e qualidade de coffee e tea rooms, onde se podem comer os tradicionais bolos ingleses à fatia (o bolo de cenoura, de limão, de caramelo e café, …) e scones recheados deliciosos, acompanhados por um bom pote de chá (com muitas qualidades à disposição) ou um "malgão" de café à inglesa.

Cream tea no Harriet's
Destas destaca-se o Harriet's. Mas que o tem o Harriet's de especial? Pois bem, para além da sua localização bem no coração de Bury St Edmunds, destaca-se pelos funcionários vestidos como manda a tradição, a decoração, o serviço, tudo isto nos faz sentir que somos príncipes e princesas a tomar chá com a Rainha!



É este, em nossa opinião, o ambiente e contexto que melhor representa o ordenamento e estilo de vida da maioria dos britânicos (se excluirmos Grande Londres e os seus 10 milhões de habitantes, 1/6 da população total). Portanto, deixamos aqui o convite para o comprovarem, saindo da “rota batida” de Londres e partindo em busca de uma experiência verdadeiramente Britânica!
 

terça-feira, 25 de março de 2014

Ir ao dentista no Reino Unido: a experiência "TAP" (parte 3)

Depois de termos vivido a experiência “Ryanair” dos consultórios dentários, seria injusto não mencionar a experiência “TAP” (ou outra operadora aérea que gostem). Até porque desmistifica algumas coisas que dissemos no outro post.

Por não querermos voltar a ficar sem tratamento em caso de “crise”, uma das primeiras coisas que fizemos ao chegar a Bury St Edmunds foi registarmo-nos num dentista. Ao pesquisar no site do serviço nacional de saúde (NHS) por consultórios locais, voltamos a dar prioridade aos que atendessem pacientes do NHS. Isto é, em que o Estado paga uma parte e os pacientes só pagam a “taxa moderadora”. A esperança disto acontecer na prática era pouca, visto que tínhamos feito o mesmo em March

Ao chegarmos ao consultório e termos expresso a intenção de nos registarmos, tivemos de marcar de imediato uma primeira consulta de diagnóstico e colheita de histórico dentário. É o habitual nestas coisas. Contudo, a data mais próxima para isto era um mês e meio depois! Pois que seja, dissemos nós, pois não havia qualquer pressa. À saída, não pudemos deixar de reparar no preçário: o absurdo habitual e à moda “Ryanair”, tudo à parte. Por que raio, perguntamos nós, uma consulta de diagnóstico não há-de ter um preço fixo (pois é evidente que têm de existir raios-X, porque é que se pagam à parte numa consulta deste tipo)?

Chegado o dia, as primeiras impressões foram boas. O consultório tem muito boas condições e o tempo de espera foi quase nenhum. A dentista era muito simpática e demorou realmente o tempo necessário para perceber o nosso histórico dentário. Fez alguns raios-X, deu alguns conselhos e terminou com a habitual limpeza (um pouco a fugir, diga-se). E esta dentista tinha “copinho com água” no fim, não foi tudo a seco como em March (muito desagradável!). No fim, disse-nos para marcarmos consulta no ano seguinte, a menos que algo surgisse no entretanto. Ao chegar à recepção para pagar, a surpresa: só 18 libras! Afinal há mesmo dentistas convencionados com o NHS! As taxas que tínhamos visto anteriormente referem-se a consultas "privadas", isto é, pagas através de seguros de saúde (logo os preços diferentes!).



18 libras corresponde ao chamado patamar 1 de consulta dentária do NHS: cobre consultas de rotina, raios-X, limpezas dentárias… O patamar 2 refere-se a tratamentos mais específicos como desvitalizações e o paciente nestes casos paga 49 libras por tratamento (mesmo que seja em 2 ou 3 sessões). Existe ainda o último patamar, que inclui coroas e implantes e aí o valor a pagar pelo paciente é 214 libras (também por tratamento). De referir que em casos especiais o paciente está isento de pagamento para qualquer tratamento: menores de 18 anos, grávidas e mães há menos de 12 meses, etc.

Depois de termos pago mais de 60 libras por consultas equivalentes em March, foi realmente com muito gosto que pagamos 18 libras. E com um tratamento muito melhor! Portanto a mensagem fica lançada: há mesmo dentistas que cobram as taxas do NHS, não é mito! Não deve haver muitos e é possível que estejam em extinção. Mas são como as bruxas: que os há, há! (caso alguém esteja interessado em saber qual é, é só pedir nos comentários!)
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

"Tenho 30 anos e moro com os meus pais. Serei normal?..."

Esta pergunta do tipo "Dra. Ruth" resume o que esteve em discussão esta manhã na rádio local, que pude acompanhar a caminho do trabalho. O animador fez o seguinte pedido/convite: ouvintes que tivessem filhos entre os 20 e os 34 anos que ainda morassem com eles, que ligassem para o programa a relatar a sua experiência, nomeadamente se não sentiam falta de ter o seu espaço como casal. Isto porque aparentemente nos últimos dois anos disparou no Reino Unido o número de casais cujos filhos têm entre 20 e 34 anos e ainda moram com os pais. Surpreendidos?! Nem por isso, não é? Afinal esta é a realidade que encontramos em Portugal (pelo menos nas zonas mais urbanas).

Ao contrário do Reino Unido, em Portugal é relativamente comum os filhos viverem em casa dos pais até estes terem 30 anos (ou mais!). E isto não é mal visto pela sociedade, pois são raros os jovens adultos que hoje em dia conseguem arranjar trabalho depois de terminado o seu percurso no ensino superior. E aqueles que conseguem arranjar trabalho, é um trabalho bastante precário e que não dá para serem financeiramente independentes da família. Por outro lado, talvez o típico jovem português seja mais ambicioso que o típico britânico, que faz as malinhas e vai viver por conta e risco para fazer o que aparecer em vez de prosseguir os estudos. Deste modo os pais portugueses, cientes de dificuldades passadas e querendo o melhor para os seus filhos, vão alimentando esta ambição mesmo à custa de grandes sacrifícios.

Ainda assim, diferenças culturais à parte, temos de ser justos: a esmagadora maioria dos pais britânicos pode trabalhar a vida toda e fazer todos os sacrifícios que dificilmente conseguirá pagar (sem um belo empréstimo...) o valor de propinas por estes lados de um mero curso de três anos: entre 9 e 11 mil euros por ano para estudantes da UE e caso sejam fora da UE o valor sobe, e bem!! Estes valores dispararam em 2012. Imaginem os valores para mestrados... E isto esquecendo as outras despesas associadas! Esta grande diferença de custos pode assim justificar em parte o facto de relativamente poucos jovens britânicos irem para o ensino superior mal fazem os chamados A-levels, exames equivalentes aos exames nacionais em Portugal, e ingressarem no mercado de trabalho. E depois claro quando eles começam a ter alguma estabilidade financeira, não a querem largar e ficam com o que têm em vez de lutarem por mais. Mas não os podemos julgar pois os seus pais quando eles fazem 18 anos põem-lhes as malas à porta e dizem para eles irem à vidinha deles. Pelos menos, é o que faziam até há pouco tempo e parece agora estar a mudar...

Tenho muita sorte por ter nascido em Portugal e ter uns pais maravilhosos, aliás sem eles jamais teria conseguido chegar onde cheguei. OBRIGADA!!!
 

domingo, 19 de janeiro de 2014

"Passou-bem"... ou não!

É de conhecimento geral que os portugueses são vistos como um povo hospitaleiro pelos que nos visitam! Esta afirmação só faz sentido na existência de um ou vários pontos de comparação. É que, por sua vez, os povos do Norte da Europa são vistos como frios e pouco amigáveis a quem vem de fora.

No caso dos britânicos, pensamos que não é bem assim: são um povo mais acolhedor considerando a maioria dos que tivemos e temos o gosto de conhecer, seja através de viagens ou conhecimento pessoal. São regra geral abertos a conhecer o outro e isso é o primeiro passo do acolhimento. Mas isso não significa que não haja diferenças bem vincadas!

As diferenças começam no cumprimento: muito raramente temos apertos de mão ou beijinhos (e só um, se houver). Abraços, ainda menos! Aqui normalmente só existem estes cumprimentos "formais" quando as pessoas se conhecem ou após uma longa ausência. No dia-a-dia, não há cumprimentos para além um "bom dia" ou "boa noite" (se tivermos sorte, pois há muita gente que entra e sai como se nada fosse ou ninguém estivesse lá...). Esta é uma marcada diferença cultural, que não tem muito a ver com ser-se muito ou pouco educado: é como é. Fomos criados de forma diferente e estranha-se bastante ao início, mas passa, ou não fossemos portugueses!

Ainda assim notamos diferenças quando comparando as regiões do Reino Unido onde vivemos. Por exemplo, no País de Gales é comum as pessoas meterem conversa no autocarro ou à espera dele na paragem, principalmente as pessoas de mais idade, fazendo conversa sobre o tempo ou sobre o seu destino naquele dia. Já em Inglaterra isso não se nota, chegando mesmo a "tocar" a indiferença pois ninguém quer saber da vida do outro (e isso pode ser bom ou mau, claro). Estilo de vida ou diferenças na educação são duas explicações possíveis para estas diferenças. Mas claro que nós estranhamos esta mudança quando viemos morar para Inglaterra. Mas já encontramos por aqui excepções (sem a influência do álcool!), pois aqui toda a gente é muito amigável depois de alguns pints de cerveja!E certamente a maior parte das pessoas interessa-se, têm sim uma forma diferente de o demonstrar.

Também, devido ao facto das pessoas praticamente não comerem durante o dia, não há aquela desculpa da pausa de almoço, em que as pessoas se juntam e falam (de trabalho ou não). Portanto, cada um encontra o ritmo ou altura certa para comer qualquer coisa e depois retoma ao serviço. Isto é mais ou menos comum a todos os sectores de actividade por aqui! Sejam lojas, escritórios, universidades, hospitais, ... é assim. Isto estende-se às pausas para café, que por cá não existem, visto que a toda a hora é hora de café e chá (canecas bem cheias, claro). Isso é que é mais difícil de nos habituarmos, ai o nosso cafézinho...

Ou seja, não há aquele contacto mais "amigável" durante o dia, como há em Portugal (o que nem sempre é bom, como sabemos). Mas nunca pior. Ao fim de algum tempo já nem se pensa nisso! Mas isto não significa conformismo. Bem gostávamos que fosse diferente, mas como a nossa terra... só a nossa terra!


domingo, 5 de janeiro de 2014

A história dos 3 porquinhos não podia fazer mais sentido neste país!

O primeiro post de 2014 só podia ser dedicado à nossa mudança de residência de March para Bury St. Edmunds. Até agora tínhamos sempre vivido em apartamentos mobilados.

A nossa primeira casa em Cardiff era bastante compacta mas muito ajeitadinha, com pouco mais de 40 metros quadrados. Sim, não é engano, eram mesmo 40m2! A nossa maior divisão era o quarto que ficava virado para a rua, o que o tornava um pouco barulhento (mas aguentava-se bem!). Já a cozinha ficava debaixo das escadas da casa, que davam acesso aos apartamentos do 1º e 2º andar.


A casa de Cardiff

Quando nos mudamos para March as coisas melhoraram significativamente pois tínhamos um T2 bastante razoável, onde já podíamos receber familiares e amigos confortavelmente. Mas claro que o melhoramento em termos de tamanho não foi assim tanto, pois o nosso apartamento tinha 59 metros quadrados. Mas em termos de barulho, tirando o Sábado à noite e o Domingo por volta das 8h30m em que éramos acordados pelo pub da esquina a colocar as garrafas da noite anterior no vidrão, foi uma grande melhoria! Também tínhamos bastante Sol durante todo o dia, o que tornava a casa bastante quentinha, e um lugar estacionamento na rua mas não coberto, o que era motivo de grande preocupação nos dias de neve. Mas a cereja no topo do bolo eram mesmo os vizinhos, dos quais não temos saudades nenhumas!

A casa de March

Tendo mudado e melhorado a nossa situação, e pensando mais a médio prazo, decidimos que a nossa próxima casa seria uma casa em vez de um apartamento, com alguns requisitos básicos: ter garagem e um jardim pequeno para poder fazer uns churrascos quando o tempo permitir e desfrutar de tempo de relaxe em família (visto que não se deve ensinar "varandas" nos cursos de arquitectura deste país...). Posto isto, depois uma procura alargada e de uma decepção, lá descobrimos a nossa casa em Bury St Edmunds. Ainda está um bocado longe de ser a casa dos nossos sonhos mas preenche a grande maioria dos nossos requisitos e está dentro daquilo que queremos e podemos pagar. E claro fica em Bury St Edmunds, o que a torna mais especial! A casa é um T3 mas não fiquem muito entusiasmados porque na verdade o que neste país é T3, equivale a um T2 em Portugal (e mesmo assim...). Portanto, na verdade temos um T2 + um "quarto de bonecas " que mede 2m por 2,5m. Tudo isto perfazendo 75 metros quadrados, o que torna as cozinhas de 7m2 que vimos no IKEA em Londres perfeitamente lógicas.

Mas o que faz sentido neste país é a história dos 3 porquinhos. Toda a gente conhece bem esta história, que faz parte da infância de todos nós. Mas porquê, perguntam vocês? Esta foi a primeira casa que arrendamos completamente vazia, isto é, não mobilada. A única coisa que tínhamos eram os electrodomésticos da cozinha. Nem sequer cortinas tinha! E foi precisamente por aqui que começamos. Ora bom, quando penduramos as cortinas nos varões(que já pertenciam ao inventário da casa) ficamos com um bocado de parede na mão e o varão na outra! Visto as paredes serem "falsas" (serem feitas de madeira), eles não usaram buchas para afixar as coisas. O mesmo se passou quando colocamos os candeeiros cá em casa e verificamos que o pendente da lâmpada estava afixado directamente no tecto, novamente sem buchas! O resultado, tá visto claro, quando fomos meter o candeeiro ficamos com um bocado de tecto no mão. E podíamos continuar por aqui fora com mais exemplos mas não vos queremos maçar muito! Escusado será dizer que casas como estas são mato por aqui e que são vendidas a preço de luxo...

Moral da história: aqui as casas são essencialmente feitas de madeiras, tal como a casa do 2º porquinho da história dos 3 porquinhos, e vindo um vendaval mais forte lá vai tudo pelo ar! Vamos rezando e esperando que o lobo não passe por estes lados, senão vamos ter de ir em busca de uma casa de tijolos rapidamente!
Fonte: http://vector-magz.com/wp-content/uploads/2013/10/three-little-pigs-clip-art.jpg