terça-feira, 29 de abril de 2014

Doutores e Engenheiros

Um destes dias, num dos nossos empregos, a maior hierarquia da empresa baseada localmente chegou junto dos funcionários e começou a perguntar se queriam café ou chá. E lá foi e voltou com um tabuleiro cheio de “malgões” e distribuiu-os um a um. E aparentemente não espantou ninguém. Isto deixou-nos a pensar: alguma vez tínhamos visto isto em Portugal?

Sendo que não é nada de espectacular em si mesmo, é um gesto bastante invulgar em Portugal, onde se cria uma barreira ridícula entre a “plebe” e a “realeza”. Ainda que também exista hierarquia aqui e esta seja respeitada, não há aqui “Dr. X” ou “Eng. Y”, as pessoas tem nome e é esse que se usa no dia-a-dia. Um dos nossos choques da “adaptação invertida” (isto é, quando voltamos esporadicamente a Portugal) é reparar o quanto certas pessoas adoram ter um “título”, que quase parece realeza, e quantas outras chamam essas pessoas pelo título quando na realidade lhes apeteceria era chamar-lhes outra coisa… Este é um sinal cultural dos países do Sul da Europa (já nos disseram que pelo menos em Itália e Espanha é igual) e não é certamente um sinal de equidade social, que é só por si um dos pilares de um país evoluído.

Todos certamente nos lembramos do gozo que o ex-ministro Álvaro Santos Pereira levou quando insistiu que o tratassem por Álvaro. E depois, quando foi ao Telejornal da RTP, o Carlos Daniel pediu-lhe desculpa por não lhe chamar Álvaro pois “o formalismo do Telejornal não o permitia”. Mas porquê? Na verdade, ele era capaz de ser uma das poucas pessoas em posição semelhante que poderia ser justamente chamado de Doutor (porque de facto tem Doutoramento), mas não queria... é o nosso país dos “doutores”.

As pessoas tratarem-se pelo primeiro nome por aqui é das coisas que mais gostamos. Não cria barreiras (que na verdade não devem existir), sem impedir que cada um saiba “o seu lugar”. Para quando isto em Portugal?


Nota: existem certamente excepções a esta regra, tanto cá como lá (e conhecemos algumas, para os "dois lados"!!), mas após alguns anos por cá esta é a nossa percepção.
 

domingo, 13 de abril de 2014

Bury St. Edmunds: uma experiência verdadeiramente Britânica!

O Harriet's em Bury St. Edmunds

Esta imagem é de uma belíssima coffee shop que podemos encontrar em Bury St Edmunds chamada Harriet's. Podia de de muitas outras cidades e vilas tais como Cambridge, Stratford-upon-Avon, Windsor, York ou até March. Mas esta coffe shop é especial para nós e vamos neste post tentar explicar o porquê. 

Quando se pensa no Reino Unido ou em Inglaterra, uma das primeiras coisas que ocorrem é seguramente Londres. E apesar de ser uma cidade fascinante, carregada de história, imponência e vida (até demais!), não é, em nossa opinião, uma representação fiel do que é o Reino Unido ou viver no Reino Unido. Londres, até para o comum dos nativos das nossas bandas, é assim uma espécie de “ilha” dentro da própria ilha, onde tudo é em grande, para o bem e para o mal.

Porém, não é preciso andar muito para fora de Londres para perceber que a realidade do país é bem diferente. Por exemplo, quem já fez a ligação de autocarro ou comboio Londres – Aeroporto de Stansted sabe que logo ao fim de 10/15 minutos entra numa grande planície verdejante e é este o panorama até ao aeroporto. Isto resume em grande medida o que é o Reino Unido (excluindo a Escócia, que parece ser bem mais montanhosa, e partes do País de Gales): uma grande planície verdejante com algumas grandes e médias cidades pelo meio (Londres é à parte, mas também existem outras cidades bem grandes como Birmingham, Manchester e Liverpool) e salpicada de muitas pequenas vilinhas onde tudo acontece bem mais devagar. O Reino Unido é um país com uma matriz rural muito marcada, ainda que uma ruralidade bem mais instruída e evoluída do que a que o termo normalmente carrega. Se as casas são de bonecas, as propriedades são de perder de vista. Há gado por todo o lado, cavalos, coelhos bravos, esquilos… é um deleite para quem gosta de campo e de um estilo de vida mais pacato.

O Hengrave Hall
E é neste contexto que Bury St. Edmunds se insere: é uma vila de 40000 habitantes que tem um estilo rural e tranquilo mantendo quase tudo o que uma cidade precisa de ter. Tem uma zona histórica muito pitoresca, uma arquitectura tradicional bastante preservada, espaços verdes públicos muito bem cuidados e uma delimitação muito clara entre zonas comerciais e residenciais. O ambiente é bastante mais homogéneo do que em cidades como Londres (há estrangeiros, como nós, mas nota-se muito menos a mistura) e o comércio é muito mais baseado em lojas de rua independentes.

Estátua do Rei Edmundo junto aos Abbey Gardens
Panorama do centro da vila
Deste comércio independente salta à vista a quantidade e qualidade de coffee e tea rooms, onde se podem comer os tradicionais bolos ingleses à fatia (o bolo de cenoura, de limão, de caramelo e café, …) e scones recheados deliciosos, acompanhados por um bom pote de chá (com muitas qualidades à disposição) ou um "malgão" de café à inglesa.

Cream tea no Harriet's
Destas destaca-se o Harriet's. Mas que o tem o Harriet's de especial? Pois bem, para além da sua localização bem no coração de Bury St Edmunds, destaca-se pelos funcionários vestidos como manda a tradição, a decoração, o serviço, tudo isto nos faz sentir que somos príncipes e princesas a tomar chá com a Rainha!



É este, em nossa opinião, o ambiente e contexto que melhor representa o ordenamento e estilo de vida da maioria dos britânicos (se excluirmos Grande Londres e os seus 10 milhões de habitantes, 1/6 da população total). Portanto, deixamos aqui o convite para o comprovarem, saindo da “rota batida” de Londres e partindo em busca de uma experiência verdadeiramente Britânica!