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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O Natal, lá e cá

Com o Natal a chegar, anda toda a gente atarefada com os preparativos. As preocupações com comida por aqui não são tão grandes como em Portugal (pelo menos pelos nossos lados), mas há uma azáfama muito própria da época no ar.

O prato central do Natal em Inglaterra (na maior parte dos lares) é o peru recheado assado no forno, com todos os acompanhamentos habituais. Nao é muito diferente de alguns sitios em Portugal, onde em vez do bacalhau/polvo há peru. A grande diferenca está em quando isso acontece. Enquanto que em Portugal o "grande momento" é na véspera e a antecipação da meia noite têm um grande papel, no Reino Unido o que conta mesmo é o dia de Natal.

Peru de Natal à Britânica
A véspera de Natal é uma noite como as outras por aqui. Pelo contrário, o dia de Natal funciona com um grande dia de "Sunday lunch". Toda a gente arrebita (mais ou menos) cedo, abrem-se presentes, vai-se à missa de Natal (os que vão) e ao parque em família e almoça-se tarde (comparado com o normal), mas em grande. No inicio da refeição todos rebentam em conjunto os famosos "crackers" e vêm o que lhes calhou em sorte. Para além da "coroa" de Natal, vem sempre um brinde ou uma anedota. É assim uma espécie de "kinder surpresa", que ajuda a animar as hostes para a longa tarde.


Acaba por ser a única refeição do dia, a que se seguem jogos e/ou filmes. Felizmente nunca tivemos a experiência em primeira mao de um dia de Natal por Inglaterra, mas é assim que costuma funcionar, segundo amigos. Em Portugal, bem sabemos, o dia de Natal é também bastante atarefado, mas o ambiente ja é um bocadinho mais de "ressaca", dada a comezaina da noite anterior. A energia começa-se a esgotar logo a seguir ao almoço e acaba por nao haver tanto "movimento" como na noite anterior.

Independentemente das diferenças, o Natal como sempre o conhecemos é o "nosso" Natal e não o mudariamos nem um bocadinho. Tenho a certeza que os britânicos pensam o mesmo em relação ao "seu" Natal. De uma forma ou de qualquer outra, um Feliz Natal para todos!!

sábado, 10 de dezembro de 2016

Afternoon tea

Outro deleite da estação Outono/Inverno é o afternoon tea. Sim, o "chá da tarde". É uma espécie de lanche ajantarado, mas bem diferente do habitual em Portugal. Normalmente servido entre as 2 e as 5 da tarde, a composição do afternoon tea é variável, não existem dois iguais. A regra é que seja composto por três camadas: salgados na base; doces no meio; e no topo, o rei da festa: scones com compota e clotted cream, pois claro. E a refeição é feita por esta ordem, dos salgados até aos scones. Tudo isto normalmente acompanhado de chá (ou café, para os menos tradicionalistas. Em alguns casos, para os mais requintados existe a opção de um copo de espumante). Eis um afternoon tea que tivemos o prazer de degustar recentemente.



Regra geral os salgados são vários tipos de sandes em pão de forma sem côdea, mas neste caso temos uma mistura com outras iguarias. Destaque para o scotch egg, que consiste num ovo cozido envolvido em carne de salsicha e, por fim, panado em pão ralado. Sabe melhor do que soa!



Os doces nesta versão são uma mistura de britânico e continental: não falta o tradicional brownie e um menos convencional marshmallow de côco, mas temos também mini-eclairs e pavlova de chocolate branco.



Invariavelmente no topo temos os scones, um dos ex-libris da cultura britânica. São normalmente acompanhados por compota e uma de duas opções: manteiga ou clotted cream. Clotted cream é um tipo de natas que é obtido a partir da fervura do leite gordo de vaca (a "pele" do leite como diz muita gente em Portugal).


Se estiverem no Reino Unido por esta altura do ano, é uma experiência de degustação e tanto desfrutar de um afternoon tea numa tradicional casa de chá com a lareira acesa... imperdível!

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brexit... e agora?

Como todos sabem, o Reino Unido votou na Quinta-feira passada para deixar a União Europeia.

fonte: home.bt.com
Muito se tem dito e escrito sobre isto (demais!) e neste momento há um excesso de ruído, que se torna realmente cansativo. Tem sido uns 4/5 meses de inferno em relação a este assunto e os próximos prometem continuar pelo mesmo caminho.

Apenas uns apontamentos sobre a votação. Muito se disse, mas apenas dois ou três argumentos trouxeram decisivamente a votação da “saída” para cima: a primazia do parlamento britânico em relação a qualquer legislação vinda de “Bruxelas” (Bruxelas entre aspas, pois é por estas bandas sinónimo de União Europeia) – o Reino Unido sempre olhou de soslaio para o “Continente”, esta União sempre foi (para eles) suposto ser apenas negócio; a percepção que se gastam milhões em “Bruxelas” que eram melhor aplicados no Serviço Nacional de Saúde e outros serviços públicos; e, claro, o rei dos argumentos: a imigração e o “controlar as fronteiras”. A imigração foi explorada até à exaustão e chegou a um nível tal que se tornou visceral. Não sei se estão a par, mas houve um brutal assassinato em plena luz do dia de uma deputada trabalhista uma semana antes da eleição, instigado pela atmosfera a que se chegou. Muito triste…

Aparentemente houve muita gente surpreendida com o resultado e “arrependida” do voto logo na Sexta-feira. “Era suposto apenas ser protesto, nunca pensei”, tem-se ouvido. O que está feito, feito está. As cenas dos próximos capítulos só mesmo o tempo vai determinar, mas há certamente um exercício de reconciliação nacional a ser feito. Temos um país estraçalhado a meio por uma decisão fundamental e, mais importante que isso, dividido em questões que trouxeram os mais primários sentimentos e atitudes “fora do armário”.

Os próximos meses são para sentir o pulso à Nação e perceber qual é o sentimento. O Reino Unido sempre foi um país mais tolerante que a maioria, veremos se assim se mantém. Assim o esperamos.
 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

David Bowie

Bowie deixou-nos esta semana, com o inesperado que sempre o caracterizou.

Gerações de seguidores (nos quais nos incluímos) ficam órfãs de um ícone, muito mais que um simples músico. E a música so por si é um motivo mais que suficiente. Nunca me hei-de esquecer do dia que vi/ouvi "Ashes to Ashes", com Bowie vestido de palhaço num cenário cheio de cor e situações estranhas (assim pensei na altura), Tantas camadas, tanto por baixo da superfície que se vai sempre descobrindo, com novos sentidos... não é assim com todos os artistas que perduram e passam para além da morte, como diria Pessoa?

O Reino Unido (e por esse mundo fora, suponho!) parou para chorar e homenagear o artista. Lembro-me da primeira vez que cheguei ao Reino Unido e senti o contraste nas ruas, a sensação que parecer/vestir/viver "diferente" não tinha mal". Com o tempo notámos que mesmo em sítios tão pequenos e "geriátricos" como March há tanta extravagancia quanta tolerância nas ruas, mesmo sendo este país ainda relativamente conservador. Uma grande lição! Quanto disso não será influência de Bowie? Ele trouxe cor, criatividade, inspiração e desafio a um país acinzentado pelo pós-guerra e em crise económica. Libertou amarras. Consensualizou a diferença. E contagiou o Mundo. Quanto do que nos acompanhou culturalmente nos últimos 30 ou 40 anos (e tanto admiramos) não foi, directa e indirectamente, influenciada por David Bowie?

Mural de Bowie em Brixton (Londres), no dia da sua passagem (fonte: standard.co.uk)
Muito obrigado por tudo David! Que descanses em paz.

P. S.: Um feliz 2016 para todos, pleno de realizações e de felicidade.
 

quinta-feira, 21 de maio de 2015

"Um engenheiro foi chamado"

Esta é uma expressão muito vulgar por estes lados, que causa estranheza ao comum de nós, portugueses. Um médico foi chamado, tudo bem, mas um engenheiro?!

"An engineer has been called"... (fonte: www.365pubs.com)

Pois, o ponto aqui é perceber o que é um "engenheiro" por estes lados. Desde tempos para além do nosso conhecimento, um engenheiro é alguém que resolve problemas do dia-a-dia em nossas casas, onde trabalhamos ou na via pública. Até aqui tudo bem, na definição portuguesa do termo. A diferença salta à vista quando andamos na rua e vemos carrinhas de "heating engineers", "plumbing engineers" ou (heresia das heresias!) "electrical engineers". Ou seja, técnicos de ar condicionado, canalizadores e electricistas, respectivamente! Toda a gente neste pais que trabalhe no sector da construção/manutenção usa livremente o título "engenheiro". Então onde se situam os engenheiros, tal como os conhecemos em Portugal? Bem, não há grande (aparente) distinção. Um "electrical engineer" tanto pode ser um engenheiro electrotécnico como um electricista, um "civil engineer" tanto pode ser um engenheiro civil como um trolha. É assim mesmo. Já ouvi uma pessoa contar que quando uma vez se apresentou como engenheiro electrotécnico lhe perguntaram se tinha feito a instalação eléctrica da casa dele...

Apesar do significado tradicional da palavra engenheiro por estes lados, que por isso mesmo não pode ser "protegido", ainda muita gente fica frustrada com a situação. O título controlado "chartered engineer" (engenheiro "certificado", numa traducao muito livre), atribuído pelo equivalente britânico da Ordem dos Engenheiros, não tem feito o suficiente para sensibilizar o público para a profissão e separar as águas. Na verdade, a percepção geral da palavra "engenheiro" é considerada um dos motivos para a relativamente baixa proporção de alunos que vai para cursos universitários de engenharia por cá. Os adolescentes não se sentem atraídos a serem engenheiros, pela conotação publica e imagem que se tem do que é um engenheiro. Como calculam, isto sai e vai continuar a sair muito caro ao Reino Unido. Estima-se que 2.2 milhões de engenheiros serão necessários na próxima década no Reino Unido se este quiser manter um papel de liderança.

A questão do titulo "engenheiro" é tema mais que recorrente nas cartas dos membros para a revista da Ordem dos Engenheiros daqui. Deixo-vos com um desencantado desabafo de um membro, na minha opinião um das mais engraçadas cartas que li sobre o tema na revista. Para quem não está tão habituado ao inglês, o membro questiona porque não lhe chamam médico se ele é capaz de medir a sua própria tensão arterial, visto que para ser engenheiro basta apenas saber usar uma pá...

Fonte: revista "Engineering & Technology" do Institute of Engineering and Technology (IET), Fevereiro de 2015


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Chá das 5

Desde muito novos fomos acostumados à expressão "chá das 5". Proveniente de uma certa ideia romântica sobre o Reino Unido (provavelmente tendo em mente a Rainha), é uma expressão que povoa as nossas mais remotas memórias, seja pelo programa da Teresa Guilherme ou pela recordação do chá de cidreira (ou, com muita sorte, camomila) e das sensaboronas bolachas Maria ou "água e sal" por volta daquela hora. Mas será que falamos da mesma coisa no Reino Unido quando falamos do "chá das 5"?

Às 5 da tarde no Reino Unido tudo o que é casa de chá já fechou ou está a fechar. Às 5 da tarde está sim terminado o dia da grande maioria da população e é hora de voltar a casa. Tradicionalmente a classe média e operária neste país chama "tea" à refeição que faz ao chegar a casa entre as 5 e as 6 e que é, efectivamente para os nossos padrões lusitanos, o jantar deles. Abaixo está um exemplo de um "tea" inglês:

Pie and mash with gravy and peas (tarte de carne com puré, molho e ervilhas (fonte: TripAdvisor)
Como se isto já não fosse complicado o suficiente, estas pessoas chamam à refeição que fazem ao meio-dia "dinner". As primeiras vezes que ouvimos isto pensámos que ou se tinham enganado ou que nos estavam a gozar. Mas com o tempo já nos habituámos. Ah, e ainda existe a "supper" (ceia), mais ou menos pela hora a que nós jantámos (entre as 8 e as 9).

É preciso dizer que existe uma minoria, normalmente pessoas mais novas, que chama "lunch" ao almoço e "dinner" ao jantar, mas não é de facto a regra por estes lados.

Para dizer a verdade, seria difícil de definir uma hora do chá para o comum dos britânicos pois... eles passam o dia a beber chá! De caneca em caneca quase da mesma forma como algumas pessoas fumam acendendo um cigarro com a ponta do cigarro anterior. Não é exagero! É por isso que uma das última vezes que ouvi  alguém perto de mim dizer às 5.30 "I'm having my tea now" imediatamente pensei "Qual é a novidade, passaste o dia a beber chá!" para dois segundos depois lembrar-me "Ah! Esse "tea"..."

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Fogo que queima a carteira!

Qual é a probabilidade de em Portugal alguém pagar para ir ver um banal fogo-de-artifício? E quando o valor a pagar é 7 euros para os adultos, 6 para as crianças e 22 para uma família com dois filhos? E, mais precisamente, quem pagaria estes valores (ou outros quaisquer) quando o mesmo fogo é visto do outro lado da “cerca”, a uns metros de distância, completamente à borla? Ah, e sem uma motivo de “caridade” muito concreto para justificar este pagamento. Quase zero? Bem, é o que nos parece. Mas se tivessem vindo a Bury St Edmunds no passado Sábado teriam mais uma prova de que existem diferenças culturais entre Portugal e o Reino Unido!

fonte: bury-st-edmunds.roundtable.co.uk

Cerca de sete...mil (!!!) pessoas, de acordo com os jornais locais, juntaram-se nos Abbey Gardens ao início da noite de Sábado para experienciar aproximadamente 20 minutos de fogo-de-artifício. Engarrafamentos e a quase impossibilidade de estacionar no centro provaram-nos o quão podemos ainda ser surpreendidos neste país. Ao ver aqueles preços, nunca nos passou pela cabeça aquele panorama.

fonte: buryfreepress.co.uk
Este espectáculo insere-se na tradição anual do Bonfire, que explicamos no blogue noutra ocasião. Ninguém leva o evento pirotécnico muito “a sério” (em termos de motivações) mas no fundo é uma espécie de “Dia do Orgulho Anglicano”. O que é realmente levado muito a sério é o aspecto lúdico do Bonfire. Em todos os cantos e esquinas encontramos “kits” de pirotecnia, para todos os orçamentos, para rebentar com o maior estrondo possível chegado o dia. É realmente impressionante, mesmo em pequenas vilas. Parece um ataque aéreo massivo! Perigoso? Sim, sem dúvida, pensamos nós, mas a realidade é que não se ouvem grandes preocupações com isto numa tradicionalmente "securitária" sociedade britânica!

fonte: burymercury.co.uk

Bem, mas para ser justo com o povo britânico, é muito raro ver fogo-de-artifício ao longo do ano. Vemos no Ano Novo em Londres e Edimburgo, mas pouco mais. Não é um país de “foguetes”. O que contrasta com o país do foguetório que somos, em que todas as terras e terrinhas, festas e festinhas têm de ter fogo-de-artifício para a celebração ser “como deve ser”! E então ouvimos foguetes “noite sim, noite não” de Junho a Setembro, o que diminui o “valor” dos foguetes e do espectáculo associado. É compreensível a excitação, mas daí a pagar 7 euros para ver fogo-de-artifício no céu que é de todos… ainda não estamos assim tão “british”!
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A velha York

York é uma importante vila do Nordeste de Inglaterra, capital de um dos maiores condados de Inglaterra: Yorkshire. Moram em Yorkshire (em cidades como Leeds e Sheffield) aproximadamente 5 milhões de pessoas, tantas como em toda a Escócia (!). É uma zona tradicionalmente industrial, não propriamente turística nem especialmente amigável (uma das áreas com maior taxa criminal no Reino Unido). A vertente industrial já foi bem maior e as consequências deste declínio são bastante visíveis. Mas como se enquadra a vila de York no contexto global de Yorkshire?

Perspectiva de York
York é um sítio à parte no contexto do condado. É uma pequena vila histórica, envolta numa muralha erguida no tempo dos Romanos e com raízes na invasão Viking (nesses tempos era conhecida como Jorvik). Encontramos lá também uma das mais importantes Catedrais de Inglaterra, ainda que isso não nos parecesse argumento suficiente para o elevadíssimo preço de admissão.

Catedral de York


York tem ainda uma excelente oferta de museus e é realmente preciso fazer uma selecção! Visitamos o museu ferroviário, que era de facto soberbo! Contíguo à estação de caminhos-de-ferro, contém uma quantidade e qualidade de equipamento e informação que permitiria a um verdadeiro aficionado horas e horas de deslumbre! Isto não é de todo surpreendente, face à posição pioneira que o Reino Unido teve na ferrovia e da paixão colectiva por comboios. Cereja no topo do bolo: é um museu em que não se paga admissão, logo não há mesmo desculpa para o falhar!



O museu ferroviário

Outro museu muito interessante é o Museu Viking. É um museu “vivo”, pois reflecte um trabalho contínuo de descoberta de uma vila Viking onde hoje é o centro da vila. As primeiras descobertas ocorreram nos anos 1960 e desde então muito trabalho tem sido posto na descoberta destas raízes e na catalogação dos achados. É um museu para toda a família, muito bem organizado e com muita informação transmitida de forma interactiva, o que o torna ainda mais interessante!

O museu Viking (Jorvik) - fonte: www.picturesofengland.com

O centro da vila é bastante pitoresco, plano como habitual, com ruas muito estreitinhas que fazem lembrar o Porto. A arquitectura é geralmente imponente, mas muito baseada no típico tijolo de Londres (“cor de burro”). A oferta de lojas é excelente e não fica de todo a dever às grandes cidades. Não nos pareceu uma vila cara em termos gerais, estará um pouco abaixo do nível de Cambridge.

Uma das concorridas ruas pedonais de York

Em suma, vale certamente a pena visitar York, nem que seja como ponto de passagem rumo a paragens mais nordestinas como o Lake District e a Escócia. Viveríamos lá? Bem, não se deve dizer “dessa água não beberei” mas o contexto social não é propriamente chamativo e é só por si um factor fortemente dissuasor para não morarmos por estas bandas… mas esperamos voltar um dia, quanto mais não seja para visitar os outros museus que não tivemos tempo de visitar desta vez!
 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Bem recebidos? Não em todo o lado...

Temos vindo a dizer a todos e até aqui no blog que o Reino Unido é um país em que em geral os estrangeiros são bem recebidos. O "em geral" tem vindo a ganhar preponderância na frase anterior, tendo em conta algumas experiências recentes.

Da passagem por Cardiff guardamos um povo afável e aberto à diversidade. A transição para March não foi fácil, como escrevemos aqui na altura, pois foi um mini-choque cultural (e demográfico, porque não dizê-lo). Ainda assim, March é um lugar que não esqueceremos e mantemos belas recordações do tempo em que lá estivemos.

Viver em Bury St Edmunds é, por assim dizer, um "meio termo" entre viver numa cidade predominantemente jovem e multi-cultural como Cardiff e numa pequena vila nas profundezas da Inglaterra rural (March). Bury St Edmunds é uma vila elegante que mantém um equilíbrio muito bem conseguido entre tradição e um estilo de vida moderno. O charme de Bury St Edmunds certamente aumentou com a presença significativa de uma (endinheirada) comunidade norte-americana, dada a presença de duas bases aéreas nos arredores.

Contudo, quando partimos à descoberta daquilo que é a East of England (Este de Inglaterra, do qual fazem parte March e Bury) já fomos deparamos com surpresas menos agradáveis, que claramente resultam do crescente clima de hostilidade em relação a todos os que não são "British". Numa das ocasiões tentamos encontrar um sitio para jantar numa terra bastante rural a cerca de 15 milhas de Bury St Edmunds, e em que nos foi dito que não havia mesa para nós. Num sítio, tudo bem. Em dois... ao terceiro acabaram-se as dúvidas, apesar do subtil toque de "politeness" à inglesa. O sotaque determinou, com certeza, e o facto de naquele dia estarmos vestidos "à Verão" também não terá ajudado.

Pensamos que este tipo de situações acontece mais em lugares rurais onde o desconhecimento e a "pequenez"  de espírito é mais evidente. Não é definitivamente algo generalizado, felizmente!

Já falamos com emigrantes como nós a viver em Londres e todos são peremptórios em afirmar o quão integrados estão e como nunca sentiram discriminação pela nacionalidade. Não é difícil de acreditar, tendo em conta o quão especial e "multi" Londres é. Contudo, lugares como Thetford e Boston são a pouco mais de uma hora de distância (muito perto para o padrão britânico) e os portugueses que por lá encontramos certamente têm uma história bem diferente para contar...

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

"Mais ou menos" ou "not too bad": Portugal e Reino Unido não parecem assim tão diferentes!

Em Portugal temos a noção que somos dos povos mais pessimistas pois frequentemente ouvimos as pessoas dizer "Como estás? Estou mais ou menos." Ou "vai-se andando".

Pois os ingleses não parecem assim tão diferentes! Quando se lhes pergunta"How are you?" geralmente respondem "not too bad", muito raramente "could be worse" e quase nunca "good, thank you. Yourself?". Mesmo que estejam de férias ou tenham recebido uma boa notícia. Seja face a face ou ao telefone (mesmo que pareçam felicíssimos ao telefone, toda a gente parece "adorar" receber chamadas!). Dizer "good, thank you" parece só reservado aos estrangeiros. O "not too bad" é mesmo um vício, aposto que a maioria dos que nos lêem e moram por estes lados concordam!

 O pior é que "not too bad" não parece querer dizer grande coisa: "podia estar pior" ou "não se vai (demasiado) mal"? São duas faces da mesma moeda que não tem necessariamente o mesmo impacto nos menos avisados (os estrangeiros, claro). A verdade é que, segundo eles, "not too bad" é suposto significar "está tudo bem". Dizem-no assim para serem muito "polite" (bem comportados) e não parecerem gabarolas ou não ferirem susceptibilidades...yeah, right!

 Nós por cá estamos sempre "good, thank you", pois se assim não fosse mais valia não estar cá!


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Particularidades de ser nativo de uma das línguas mais faladas no Mundo!

O Inglês é a terceira língua mais falada no mundo, apenas ultrapassada pelo Chinês e pelo Espanhol. Este dados dizem respeito a uma sondagem feita pelo Observatório da Língua Portuguesa, realizada em Julho do ano passado. O Português é a quinta língua, graças principalmente ao Brasil.

As 10 línguas mais faladas no Mundo (clicar para expandir). Fonte: http://observatorio-lp.sapo.pt/Grafico/10-linguas-mais-faladas-no-mundo
Isto faz com que por estes lados a população seja muito resistente a aprender uma língua estrangeira, seja ela qual for. Embora contrariados, os ingleses lá são obrigados a aprender uma língua estrangeira já que faz parte do currículo escolar britânico a aprendizagem do espanhol, francês ou alemão. Mas trata-se duma aprendizagem tão elementar que eles não são capazes de dizer o básico para conseguirem ter uma conversa mínima quando de férias em França ou Espanha. E nem com a passagem do "Tour de France" por terras de Sua Majestade este ano os ingleses se esforçaram para aprender alguns palavras pois ouvimos numa das emissões regionais da BBC Radio o seguinte: "eles falam inglês não falam, portanto porquê preocupar-nos?". Aqui fica um cheirinho do como foi vivido o "Tour de France" por estes lados.


More than one million cycling fans lined the streets of Yorkshire this morning for the historic opening stage, which saw all 198 riders line up in the centre of Leeds for the Grand Depart
"Tour de France" numa das ruas de Yorkshire. 
[Fonte: dailymail.co.uk]

A Família Real à espera de ver os primeiros ciclistas a cortar a meta.
[Fonte: dailymail.co.uk]


E depois admiram-se que os estrangeiros falem 3 línguas ou mais... sim, podemos ter sotaque, mas como disse alguém: "Se tenho sotaque, é porque falo pelo menos mais um idioma que tu!".

terça-feira, 15 de julho de 2014

Que calor!...

Diz-se que o hábito faz o monge. Depois de quase três anos por estas bandas, a noção de calor e frio muda bastante. Hoje em dia, o que em Portugal seria para nós um dia frio, aqui até dá para andar em mangas de camisa (e eles de t-shirt e calções/saia sem meias e de sandálias!). Então imaginem quando os termómetros indicam uns estonteantes... 25º C! É a loucura!

Uma das "praias" de Londres: o Green Park (fonte: standard.co.uk)

A atitude perante os 25ºC aqui é quase como se fossem 35ºC em Portugal. Até para nós parece imenso calor, mas não exageremos.  O pessoal anda aqui quase nú, o que para a maior parte do pessoal dá para ficar um camarão num instante, ou como alguns dizem aqui "roasted like a crisp".

A verdade é que nós próprios já estamos bem mais "British" do que já alguma vez fomos. Já andamos em mangas de camisa quando em Portugal andaríamos de casaco, já usamos sandálias e sapatos finos quando normalmente usaríamos botas. É mesmo uma questão de hábito e aconteceu sem pensarmos muito nisso. Há algo que não pode ser negado na argumentação: se ficarmos à espera do "bom" tempo para usar a roupa de Verão, mais vale não ter roupa de Verão! Sairia mais barato, é certo...

Roasting like crisps... (fonte: dailymail.co.uk)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

O império da quinquilhice

Um dos grandes gostos do povo britânico são as compras/vendas em segunda mão ("pechinchas", está claro), particularmente velharias.

Não há terra nem terrinha que não tenha ao Sábado ou Domingo de manhã (pelo menos!) a sua feira de segunda mão ou feira de “mala do carro”, onde literalmente o pessoal chega, abre a mala do carro e vende tudo o que tenha a mais em casa. Isto para não entrarmos no assunto das lojas de caridade (aqui chamadas “charity shops”), a que voltaremos um destes dias.
 
O mercado da Bessemer Road em Cardiff (fonte: cardifflocalguide.co.uk)
O "car boot" do aeródromo de Rougham, à saida de Bury St Edmunds

Bem, mas a grande notícia nisto é o valor que se dá a estas coisas. Isto é mesmo um mercado a sério, onde se vende de tudo e mais alguma coisa, sendo que muita dela tinham de nos pagar muito bem para comprarmos. Mas vende-se! Dá que pensar quanto valerá a quinquilharia que temos lá por casa em Portugal! Há realmente pessoas muito empenhadas nisto, que vão de feira em feira e adoram “caçar” pechinchas para depois as revenderem. Isto é bem espelhado num programa diário da BBC à hora do almoço chamado “Bargain Hunt” (literalmente “caça à pechincha”). Neste concurso, duas equipas de duas pessoas (normalmente idosos) tem de ir a feiras e lojas de antiguidades/quinquilhice comprar/”marralhar” artigos que depois vão a um daqueles leilões que mais parecem os da polícia (objectos achados/roubados). Ganha no fim a equipa que conseguir ter mais lucro com a revenda dos artigos no leilão. A “ciência” com que as compras são feitas é de estarrecer, garantidamente perdíamos para quaisquer concorrentes! É notável chegar ao fim e verificar o valor pelo qual são arrematadas certas peças que nem dadas as queríamos em casa! Mas lá está, o caixote de lixo de uns é a riqueza de outros…

É realmente algo de apreciar aquando de uma visita ao Reino Unido. Se só vierem a Londres, uma versão refinada destes mercados é o chamado mercado de Portobello Road (no bairro de Notting Hill), principalmente aos Sábados. Vale bem a pena!

O mercado de Portobello Road em Londres (fonte: tripadvisor.com)

terça-feira, 29 de abril de 2014

Doutores e Engenheiros

Um destes dias, num dos nossos empregos, a maior hierarquia da empresa baseada localmente chegou junto dos funcionários e começou a perguntar se queriam café ou chá. E lá foi e voltou com um tabuleiro cheio de “malgões” e distribuiu-os um a um. E aparentemente não espantou ninguém. Isto deixou-nos a pensar: alguma vez tínhamos visto isto em Portugal?

Sendo que não é nada de espectacular em si mesmo, é um gesto bastante invulgar em Portugal, onde se cria uma barreira ridícula entre a “plebe” e a “realeza”. Ainda que também exista hierarquia aqui e esta seja respeitada, não há aqui “Dr. X” ou “Eng. Y”, as pessoas tem nome e é esse que se usa no dia-a-dia. Um dos nossos choques da “adaptação invertida” (isto é, quando voltamos esporadicamente a Portugal) é reparar o quanto certas pessoas adoram ter um “título”, que quase parece realeza, e quantas outras chamam essas pessoas pelo título quando na realidade lhes apeteceria era chamar-lhes outra coisa… Este é um sinal cultural dos países do Sul da Europa (já nos disseram que pelo menos em Itália e Espanha é igual) e não é certamente um sinal de equidade social, que é só por si um dos pilares de um país evoluído.

Todos certamente nos lembramos do gozo que o ex-ministro Álvaro Santos Pereira levou quando insistiu que o tratassem por Álvaro. E depois, quando foi ao Telejornal da RTP, o Carlos Daniel pediu-lhe desculpa por não lhe chamar Álvaro pois “o formalismo do Telejornal não o permitia”. Mas porquê? Na verdade, ele era capaz de ser uma das poucas pessoas em posição semelhante que poderia ser justamente chamado de Doutor (porque de facto tem Doutoramento), mas não queria... é o nosso país dos “doutores”.

As pessoas tratarem-se pelo primeiro nome por aqui é das coisas que mais gostamos. Não cria barreiras (que na verdade não devem existir), sem impedir que cada um saiba “o seu lugar”. Para quando isto em Portugal?


Nota: existem certamente excepções a esta regra, tanto cá como lá (e conhecemos algumas, para os "dois lados"!!), mas após alguns anos por cá esta é a nossa percepção.
 

terça-feira, 25 de março de 2014

Ir ao dentista no Reino Unido: a experiência "TAP" (parte 3)

Depois de termos vivido a experiência “Ryanair” dos consultórios dentários, seria injusto não mencionar a experiência “TAP” (ou outra operadora aérea que gostem). Até porque desmistifica algumas coisas que dissemos no outro post.

Por não querermos voltar a ficar sem tratamento em caso de “crise”, uma das primeiras coisas que fizemos ao chegar a Bury St Edmunds foi registarmo-nos num dentista. Ao pesquisar no site do serviço nacional de saúde (NHS) por consultórios locais, voltamos a dar prioridade aos que atendessem pacientes do NHS. Isto é, em que o Estado paga uma parte e os pacientes só pagam a “taxa moderadora”. A esperança disto acontecer na prática era pouca, visto que tínhamos feito o mesmo em March

Ao chegarmos ao consultório e termos expresso a intenção de nos registarmos, tivemos de marcar de imediato uma primeira consulta de diagnóstico e colheita de histórico dentário. É o habitual nestas coisas. Contudo, a data mais próxima para isto era um mês e meio depois! Pois que seja, dissemos nós, pois não havia qualquer pressa. À saída, não pudemos deixar de reparar no preçário: o absurdo habitual e à moda “Ryanair”, tudo à parte. Por que raio, perguntamos nós, uma consulta de diagnóstico não há-de ter um preço fixo (pois é evidente que têm de existir raios-X, porque é que se pagam à parte numa consulta deste tipo)?

Chegado o dia, as primeiras impressões foram boas. O consultório tem muito boas condições e o tempo de espera foi quase nenhum. A dentista era muito simpática e demorou realmente o tempo necessário para perceber o nosso histórico dentário. Fez alguns raios-X, deu alguns conselhos e terminou com a habitual limpeza (um pouco a fugir, diga-se). E esta dentista tinha “copinho com água” no fim, não foi tudo a seco como em March (muito desagradável!). No fim, disse-nos para marcarmos consulta no ano seguinte, a menos que algo surgisse no entretanto. Ao chegar à recepção para pagar, a surpresa: só 18 libras! Afinal há mesmo dentistas convencionados com o NHS! As taxas que tínhamos visto anteriormente referem-se a consultas "privadas", isto é, pagas através de seguros de saúde (logo os preços diferentes!).



18 libras corresponde ao chamado patamar 1 de consulta dentária do NHS: cobre consultas de rotina, raios-X, limpezas dentárias… O patamar 2 refere-se a tratamentos mais específicos como desvitalizações e o paciente nestes casos paga 49 libras por tratamento (mesmo que seja em 2 ou 3 sessões). Existe ainda o último patamar, que inclui coroas e implantes e aí o valor a pagar pelo paciente é 214 libras (também por tratamento). De referir que em casos especiais o paciente está isento de pagamento para qualquer tratamento: menores de 18 anos, grávidas e mães há menos de 12 meses, etc.

Depois de termos pago mais de 60 libras por consultas equivalentes em March, foi realmente com muito gosto que pagamos 18 libras. E com um tratamento muito melhor! Portanto a mensagem fica lançada: há mesmo dentistas que cobram as taxas do NHS, não é mito! Não deve haver muitos e é possível que estejam em extinção. Mas são como as bruxas: que os há, há! (caso alguém esteja interessado em saber qual é, é só pedir nos comentários!)
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

"Tenho 30 anos e moro com os meus pais. Serei normal?..."

Esta pergunta do tipo "Dra. Ruth" resume o que esteve em discussão esta manhã na rádio local, que pude acompanhar a caminho do trabalho. O animador fez o seguinte pedido/convite: ouvintes que tivessem filhos entre os 20 e os 34 anos que ainda morassem com eles, que ligassem para o programa a relatar a sua experiência, nomeadamente se não sentiam falta de ter o seu espaço como casal. Isto porque aparentemente nos últimos dois anos disparou no Reino Unido o número de casais cujos filhos têm entre 20 e 34 anos e ainda moram com os pais. Surpreendidos?! Nem por isso, não é? Afinal esta é a realidade que encontramos em Portugal (pelo menos nas zonas mais urbanas).

Ao contrário do Reino Unido, em Portugal é relativamente comum os filhos viverem em casa dos pais até estes terem 30 anos (ou mais!). E isto não é mal visto pela sociedade, pois são raros os jovens adultos que hoje em dia conseguem arranjar trabalho depois de terminado o seu percurso no ensino superior. E aqueles que conseguem arranjar trabalho, é um trabalho bastante precário e que não dá para serem financeiramente independentes da família. Por outro lado, talvez o típico jovem português seja mais ambicioso que o típico britânico, que faz as malinhas e vai viver por conta e risco para fazer o que aparecer em vez de prosseguir os estudos. Deste modo os pais portugueses, cientes de dificuldades passadas e querendo o melhor para os seus filhos, vão alimentando esta ambição mesmo à custa de grandes sacrifícios.

Ainda assim, diferenças culturais à parte, temos de ser justos: a esmagadora maioria dos pais britânicos pode trabalhar a vida toda e fazer todos os sacrifícios que dificilmente conseguirá pagar (sem um belo empréstimo...) o valor de propinas por estes lados de um mero curso de três anos: entre 9 e 11 mil euros por ano para estudantes da UE e caso sejam fora da UE o valor sobe, e bem!! Estes valores dispararam em 2012. Imaginem os valores para mestrados... E isto esquecendo as outras despesas associadas! Esta grande diferença de custos pode assim justificar em parte o facto de relativamente poucos jovens britânicos irem para o ensino superior mal fazem os chamados A-levels, exames equivalentes aos exames nacionais em Portugal, e ingressarem no mercado de trabalho. E depois claro quando eles começam a ter alguma estabilidade financeira, não a querem largar e ficam com o que têm em vez de lutarem por mais. Mas não os podemos julgar pois os seus pais quando eles fazem 18 anos põem-lhes as malas à porta e dizem para eles irem à vidinha deles. Pelos menos, é o que faziam até há pouco tempo e parece agora estar a mudar...

Tenho muita sorte por ter nascido em Portugal e ter uns pais maravilhosos, aliás sem eles jamais teria conseguido chegar onde cheguei. OBRIGADA!!!
 

domingo, 19 de janeiro de 2014

"Passou-bem"... ou não!

É de conhecimento geral que os portugueses são vistos como um povo hospitaleiro pelos que nos visitam! Esta afirmação só faz sentido na existência de um ou vários pontos de comparação. É que, por sua vez, os povos do Norte da Europa são vistos como frios e pouco amigáveis a quem vem de fora.

No caso dos britânicos, pensamos que não é bem assim: são um povo mais acolhedor considerando a maioria dos que tivemos e temos o gosto de conhecer, seja através de viagens ou conhecimento pessoal. São regra geral abertos a conhecer o outro e isso é o primeiro passo do acolhimento. Mas isso não significa que não haja diferenças bem vincadas!

As diferenças começam no cumprimento: muito raramente temos apertos de mão ou beijinhos (e só um, se houver). Abraços, ainda menos! Aqui normalmente só existem estes cumprimentos "formais" quando as pessoas se conhecem ou após uma longa ausência. No dia-a-dia, não há cumprimentos para além um "bom dia" ou "boa noite" (se tivermos sorte, pois há muita gente que entra e sai como se nada fosse ou ninguém estivesse lá...). Esta é uma marcada diferença cultural, que não tem muito a ver com ser-se muito ou pouco educado: é como é. Fomos criados de forma diferente e estranha-se bastante ao início, mas passa, ou não fossemos portugueses!

Ainda assim notamos diferenças quando comparando as regiões do Reino Unido onde vivemos. Por exemplo, no País de Gales é comum as pessoas meterem conversa no autocarro ou à espera dele na paragem, principalmente as pessoas de mais idade, fazendo conversa sobre o tempo ou sobre o seu destino naquele dia. Já em Inglaterra isso não se nota, chegando mesmo a "tocar" a indiferença pois ninguém quer saber da vida do outro (e isso pode ser bom ou mau, claro). Estilo de vida ou diferenças na educação são duas explicações possíveis para estas diferenças. Mas claro que nós estranhamos esta mudança quando viemos morar para Inglaterra. Mas já encontramos por aqui excepções (sem a influência do álcool!), pois aqui toda a gente é muito amigável depois de alguns pints de cerveja!E certamente a maior parte das pessoas interessa-se, têm sim uma forma diferente de o demonstrar.

Também, devido ao facto das pessoas praticamente não comerem durante o dia, não há aquela desculpa da pausa de almoço, em que as pessoas se juntam e falam (de trabalho ou não). Portanto, cada um encontra o ritmo ou altura certa para comer qualquer coisa e depois retoma ao serviço. Isto é mais ou menos comum a todos os sectores de actividade por aqui! Sejam lojas, escritórios, universidades, hospitais, ... é assim. Isto estende-se às pausas para café, que por cá não existem, visto que a toda a hora é hora de café e chá (canecas bem cheias, claro). Isso é que é mais difícil de nos habituarmos, ai o nosso cafézinho...

Ou seja, não há aquele contacto mais "amigável" durante o dia, como há em Portugal (o que nem sempre é bom, como sabemos). Mas nunca pior. Ao fim de algum tempo já nem se pensa nisso! Mas isto não significa conformismo. Bem gostávamos que fosse diferente, mas como a nossa terra... só a nossa terra!


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

As gaivotas urbanas

Diz-se que a necessidade aguça o engenho. Mas isto não se aplica apenas aos humanos!

Uma gaivota "normal"

Gaivotas "britânicas"

Um destes dias, estávamos no comboio e deparámo-nos com um cenário muitas vezes visto por cá: à falta de peixe, as gaivotas "arremedeiam-se" com fish & chips. E quem sabe se não lhes sabe melhor! Não tem espinhas e ainda tem acompanhamento!

Este é um cenário muito comum por cá e, em alguns sítios, é quase uma praga. Isto era bem visível (e audível) em Cardiff, onde peritos julgam existir a maior população de gaivotas do mundo! Elas comportam-se como aves de rapina, sempre prontas a voar a pique em direcção ao seu takeaway favorito. Com os perigos que todos percebemos. Claro que grande parte disto se deve à incapacidade de muitos colocarem o lixo no seu devido sítio... Mas nem sempre: elas andam sempre à caça e podem mesmo "atacar" quem esteja muito descansado a comer!

Nunca fomos "roubados" por uma gaivota, mas realmente todo o cuidado é pouco, pelo menos por cá. Foi em Cardiff que pela primeira vez ouvimos falar em "gaivotas urbanas", da mesma forma que também existem "raposas urbanas" (que se especializam em fast food em vez de caçar frangos e galinhas - assim já as comem panadas!). Esperemos que isto não se "pegue" a Portugal!

Nham nham!

domingo, 13 de outubro de 2013

Afinal sempre valeu a pena ir à feira da abóbora!

Agradecemos as sugestões que nos deixaram relativamente ao nosso post sobre a feira da abóbora, sobre a qual falamos aqui.

Apesar do aspecto interior da abóbora não ter sido o melhor - estava muito madura - veio-se a provar de boa qualidade! Para além de várias sopas de abóbora, fizemos também uma deliciosa compota de abóbora que dá vontade de comer às colheres (depois de quase uma tarde inteira a cozinhar na panela...). Mas sem dúvida que valeu a pena todo o trabalho! Aqui fica o resultado.

A nossa compota de abóbora, acompanhada com o melhor vinho, o Vinho do Porto

Pode ser que uns certos meninos ainda cheguem a tempo de a provar, afinal eles deram a sugestão do doce de abóbora! ;)

Infelizmente, a esmagadora maioria de abóboras como esta vão simplesmente ser usadas para fazer umas caretas de Hallowe'en e depois vão... para o lixo! É verdade! Foi esta a resposta que me deram o ano passado depois deste dia, pois não vislumbravam o que mais se poderia fazer com uma abóbora... ou seja: da mesma forma que para muitos o frango vem do supermercado, a abóbora existe para o Hallowe'en!... mais fica, dizemos nós!
 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Vai uma aposta?

Quase tão certo como ter um (ou mais!) pubs, qualquer terrinha por aqui tem também a sua casa de apostas! Sejam pequenos proprietários ou grandes cadeias (como a Ladbrookes ou a William Hill), e apesar da concorrência das apostas online (como a Betfair), não há praça comercial sem pelo menos uma casa de apostas! Regra geral, há sempre espaço para as pessoas se sentarem, acompanharem os eventos e irem apostando em conformidade. É mais uma espécie de "bolsa de valores" do que  casino. Mas aqui só se compra e, com sorte, lucra-se alguma coisa no fim! ;)

As apostas são, por aqui, o equivalente ao nosso totoloto e euromilhões: cruzam gerações e classes sociais, estão firmemente implantadas e aceites como parte essencial do quotidiano do comum dos britânicos. As apostas mais vulgares por aqui são as desportivas, mas não só de futebol! Até em corridas de cavalos se aposta (não, não é só nos filmes nem só na América). Claro que começando a apostar, há sempre a hipótese de tentar a sorte com as coisas mais mirabolantes. Como no nome do "futuro herdeiro" do trono britânico.

Apostas sobre o nome do "futuro herdeiro" do trono à porta da maternidade (fonte: npr.org)

Como vêm, a agência de apostas acertou em cheio! A aposta mais provável segundo a William Hill (e portanto, menos generosa) era George. Quem escolheu George não ficou, ainda assim, mal servido: 8/1 (as chamadas "odds" - possibilidades) significa que por cada libra apostada, o apostador recebeu 8 libras!

Mais difícil é encontrar por aqui o euromilhões (não e que o procuremos muito, confessamos). Mas também se joga e ganha, como são prova alguns casos de primeiro prémio por estas bandas que chegaram às noticias em Portugal. Como exemplo, aquele casal que quando soube que ganhou o euromilhões saiu para comprar uma pizza. Mas, definitivamente, as apostas reinam por Terras de Sua Majestade.

Só depois de vermos como funciona esta indústria por aqui compreendemos melhor o absurdo económico que vivemos em Portugal. Por cá, com toda a indústria (física e online) devidamente regulada (incluindo lotarias e euromilhões), o Governo britânico recolhe uma quantia bem "simpática" em impostos por ano (dados de 2010): 700 milhões de libras. Em Portugal, temos um "semi-faroeste", em que um operador tem monopólio sobre o mercado de apostas e todos os outros tem de estar registados fora de Portugal para poderem operar. Para ja nao falar que as apostas online nao tem qualquer enquadramento legal ainda, logo é como se não existissem! Conclusão, um monte de dinheiro, tão precioso ao Estado nesta altura, a voar pela janela fora todos os dias...