Mostrar mensagens com a etiqueta Burocracia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Burocracia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Legalizar o carro trazido de Portugal: só para corações fortes! (parte 2)

Depois de muita pesquisa e triagem neste manual do governo britânico e neste panfleto, encontramos a forma para legalizar o nosso carro.

Estes são, em Junho de 2013, os passos para trazer um carro ligeiro (não novo e para uso exclusivamente privado) de Portugal para o Reino Unido.

##############

Passo 1 - Comunicar à HMRC (finanças britânicas) neste site, no prazo de 14 dias, a chegada ao país do veículo. Mesmo que sejam não residentes no Reino Unido têm de o fazer. Ah, e tenham a factura do veículo à mão.

Passo 2 - Assegurar que o veículo está conforme às normas britânicas,

Assumindo que o veículo foi comprado nos últimos dez anos, devem ser portadores do Certificado Europeu de Conformidade (EuroCoC). O EuroCoC é emitido pelo fabricante na compra e prova que as características técnicas do veículo satisfazem os requisitos ambientais e de segurança da União Europeia. Se não o tiverem, contactem o concessionário onde compraram o veículo. Em último recurso, existem empresas que emitem esses certificados por cerca de 100 euros (depende do veículo).

Para além do EuroCoC, o Reino Unido tem requisitos adicionais (validados pela Vehicle Certification Authority - VCA). No caso de estados-membro onde se conduz à esquerda (todos os outros excepto Irlanda, Malta e Chipre) o que vou escrever a seguir neste passo pode não ser necessário. A VCA requer, para além do Certificado Europeu de Conformidade, o cumprimento de três características no veículo:
- as luzes frontais devem focar para a esquerda (por causa do encandeamento);
- o conta-quilómetros deve apresentar valores em milhas por hora;
- a luz de nevoeiro traseira deve ser à direita, no meio ou nos dois lados.

Todas estas características tem de ser atestadas por escrito por uma garagem reconhecida e enviadas para a VCA. Se o carro tiver 3 ou mais anos, tem de ser efectuada uma inspecção periódica obrigatória do veiculo (aqui chama-se MOT - Ministry of Transport) e ser enviado também o respectivo comprovativo.

No caso do conta-quilómetros foi fácil, pois o contador digital é reprogramável para outros sistemas de medição.

No caso das luzes frontais, já não fomos tão afortunados. As nossas luzes, naturalmente, focavam para a direita, o normal em países onde se conduz à direita. O problema é que o nosso conjunto de faróis é estático e não é possível regular o alinhamento horizontal nem de forma manual nem automática. Logo, tivemos de adquirir um conjunto de faróis frontais novo (ou mais ou menos novo).
Para compor a festa, está bom de ver que a nossa luz de nevoeiro tinha de estar à esquerda, exactamente onde não devia estar aqui... mas este problema resolveu-se com umas alterações nas lâmpadas, foi mais fácil.

Após tudo feito e certificado por escrito pela garagem, de correspondência registada perdida (é verdade!), e passados dois meses desde o início lá tivemos o OK da VCA quando à conformidade do veículo para o Reino Unido.

Passo 3 - Obter um certificado de seguro britânico (provisório).

Para podermos registar o carro no Reino Unido, é necessário ter um certificado de seguro britânico. É verdade, mesmo com o português em vigor! A carta verde que têm convosco garante-vos protecção contra terceiros em caso de acidente, mas é inútil para estes efeitos de legalização do carro.
Mas o pior de tudo mesmo é que 95% das seguradoras deste país não vos fazem seguro sem uma matrícula britânica! É o dilema do ovo e da galinha no seu esplendor: não conseguimos registar o carro sem seguro; não nos dão seguro sem registo!

O que vale é que existem os outros 5%, que estão dispostos a fazer-nos o seguro com base no número de chassis do veículo. Para quem não sabe, o número de chassis é um número de identificação único do veículo que podem encontrar algures na carroçaria do mesmo. Com condições bastante restritivas, claro! No nosso caso, fizemos um seguro válido por 30 dias (não renovável) que só permitia um titular (o proprietário do veículo) e só cobria viagens "sociais" (não cobria "casa-trabalho-casa"!). Um seguro "não-seguro", claro está. Mas como tínhamos a nossa carta verde portuguesa que nos cobria o restante, não havia problema. Que remédio tinha de não haver, senão não poderiamos usar o carro! Este foi literalmente um seguro "para inglês ver", mas é assim que eles querem!

Passo 4 - É agora tempo de preencher formulários para a DVLA (o equivalente ao IMTT). Todos os formulários e manuais necessários para este efeito não se encontram nos correios, tem de ser pedidos online aqui, escolhendo a opção import pack.

É preciso preencher um formulário extremamente detalhado sobre o veículo. Esses detalhes devem ser obtidos no EuroCoC. Juntamente com o formulário, devem seguir os seguintes originais:
- certificado de seguro britânico;
- certificado de inspecção obrigatória - MOT (no caso do carro ter mais de 3 anos);
- documentos único automóvel português do carro (sim, isso mesmo!);
- cópia do vosso passaporte / CC (no site eles dizem que querem o original, mas ao telefone disseram-me que bastava uma cópia);
- um documento/conta que prove a vossa morada;
- o EuroCoC;
- o documento de conformidade passado pela VCA.
- o pagamento da primeira inscrição do veículo (55 libras);
- o pagamento do primeiro ano de imposto automóvel do veículo - tax disc. (Este valor é baseado quase exclusivamente nas emissões de CO2 do veículo. No nosso caso foram 20 libras. Tabela completa aqui).

Enviem tudo isto em Special Delivery (é mais caro, mas vale bem a pena a paz de espírito!). Os pagamentos podem ser enviados por cheque ou vale postal.

Passo 5: Se tudo correr bem, em 1 ou 2 semanas recebem a confirmação de que tudo está OK e recebem a vossa matrícula britânica! Passados uns dias chega o documento único britânico, que eles aqui chamam logbook.

Passo 6: Fazer matrículas!

No Reino Unido, a matrícula traseira deve ser amarela, por questões de visibilidade nocturna. Podem e devem escolher ter o simbolo da União Europeia na matrícula, pois assim não precisam de por um autocolante na traseira do veículo a dizer "GB" quando forem dar uma volta ao "continente". :)

Aqui podem encontrar uma lista de fornecedores autorizados de matrículas. Uma solução económica pode ser comprarem as matrículas no eBay num fornecedor autorizado e colocá-las vocês mesmos. Sim, é seguro!

As matriculas ficam normalmente prontas de um dia para o outro.

Passo 7: Fazer uma apólice de seguro para a nova matrícula britânica e cancelar o seguro português.

Uma coisa boa aqui no Reino Unido é que há comparadores para quase tudo: fornecimento de electricidade, gás, contratos de telemóveis, televisão, internet, ... e, claro, seguro automóvel.

Um dos melhores sites de comparação é o Money Supermarket. Aqui devem encontrar as melhores cotações possíveis para o vosso veículo, tendo em conta o vosso perfil enquanto condutores, as características do veículo, o local onde vivem, entre outros factores. Em 10 minutos ficam com o seguro automóvel praticamente resolvido.

Passo 8: Cancelar a matricula portuguesa junto do IMTT

Este passo deveria ser desnecessário. As autoridades britânicas devem entrar em contacto com as portuguesas para este efeito mas, pelo que lemos nos fóruns de portugueses noutros países em condições semelhantes, é melhor não nos "fiarmos na Virgem".

O Código da Estrada diz:

"O cancelamento da matrícula deve ser requerido pelo proprietário ... quando é atribuída matrícula noutro país.
a) Sendo o veículo matriculado num Estado-Membro, este deve comunicar ao IMTT a nova matrícula atribuída para efeitos de cancelamento automático da matrícula nacional, sem prejuízo dos interessados diligenciarem junto do IMTT esse cancelamento."
Pois é melhor então prevenir que remediar, para evitar que apareça imposto automóvel por pagar.

##############

E é isto o que é preciso fazer, em termos gerais e a correr bem! Daunting (assustador), como se diz aqui, não é?

Fica o serviço público d' O Meu Lado Solar. Esperamos que seja útil a alguém, nem que seja para perceber que só mesmo em condições especiais vale a pena nos darmos a este trabalho!
 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Legalizar o carro trazido de Portugal: só para corações fortes! (parte 1)

Começar de novo num país é como um videojogo: passamos diversos "níveis" até chegarmos ao desafio final, ao "boss". Os "níveis" incluem o reconhecimento de habilitações, a inscrição em serviços de saúde e a "inculturação" habitual quando se chega a um novo país. O "boss", definitivamente, foi legalizar o carro que trouxemos de Portugal!

Um momento simbólico...
Acreditem que chegar a esta fotografia foi um desafio à tenacidade, ao amor ao veículo e, já agora, à paciência. Vamos poupar-vos a detalhes desnecessários. Neste post fica apenas um "cheirinho" da nossa experiência de trazer o carro para o Reino Unido. No próximo post fica o "manual" de como o fazer (aqui ou, com pequenas modificações, em qualquer outro Estado-Membro da União Europeia).

Tendo disto isto, a primeira observação é: só tragam o carro para o Reino Unido se for mesmo necessário ou se houver uma razão muito forte/imediata para o fazerem! Esta constatação não é nova para nós: apenas trouxemos o carro pois precisávamos de uma solução rápida (e o tempo escasseava na altura), porque o carro era praticamente novo e, vá, porque tem grande significado material (e imaterial) para nós. Os carros aqui, novos ou usados, são mais baratos e têm volante à direita, o que dá jeito nestas estradas :). Logicamente, o prémio de seguro sobe em carros conduzidos à esquerda. Tudo isto são argumentos de peso para não trazer o carro. Mas os nossos argumentos pesaram mais (e não estamos de todo arrependidos!).

Tendo chegado ao Reino Unido no Pont Aven em Setembro, os seis meses seguintes decorreram sem problemas de maior com o veículo. Habituarmo-nos à condução aqui foi bem menos complicado do que se possa pensar e isso deve-se em grande medida às boas estradas, à orografia plana e, é preciso frisar, ao civismo dos condutores britânicos (nisso temos muito a aprender com eles!).

Ao chegar perto dos 6 meses, foi hora de começar a pensar em legalizar o veículo. No meu caso, dado ser considerado não residente aqui (era estudante e as minhas conexões "profissionais" estavam em Portugal) e o carro não ser novo (não é novo se tiver sido comprado há mais 6 meses ou tiver 6000 milhas - aproximadamente 10000 km) poderia circular com ele aqui durante 183 dias por ano sem comunicar nada às finanças (HMRC) e ao IMTT daqui (DVLA) desde que tudo estivesse regularizado em Portugal. #### Um aparte: em Abril de 2013, o governo do Reino Unido mudou esta legislação e agora qualquer pessoa que chegue com um carro de fora, seja residente ou não, tem de comunicar em 14 dias esse facto à HMRC. ####

Do pensar em legalizar ao fazer foi uma grande distância e os obstáculos foram como minhocas: a cada "escavadela", mais uma. E cada vez maiores!

No próximo post descrevemos então os passos necessários para levar esta "empreitada" a bom termo, seja aqui ou noutro Estado-Membro. Esperamos que sejam úteis a alguém desse lado!
 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Burocracia contra ataca - a electricidade

Bem tínhamos dito que voltaríamos às burocracias da casa caso se justificasse. Após 10 meses vamos agora pagar a nossa primeira factura de electricidade (gás ainda estamos para ver...). Depois de vários episódios, alguns deles bem rocambolescos, claro. Difícil de acreditar?

Pois parece que por estes lados isto é mais frequente do que podem imaginar. A separação do negócio de venda de energia a consumidores domésticos por várias empresas (privadas) - a chamada liberalização - levou a que qualquer consumidor possa escolher e trocar de operador à sua vontade e sem qualquer penalização. Este processo está agora ao rubro em Portugal, mas no Reino Unido o fenómeno já tem vários anos. Para funcionar, isto envolve não só os diversos fornecedores mas também múltiplos intermediários. E cresce a burocracia...

O que aconteceu no nosso caso é que, como em muitas casas por este país fora, houve algures uma alteração na topologia da casa para passar de uma grande casa para 4/5 pequenos apartamentos. Isto para responder às sempre grandes necessidades de arrendamento (outro mundo comparado com Portugal). E o que isto tem de especial? É que ao instalar novos contadores, eles ficaram propriedade de diferentes companhias de electricidade. Algumas delas faliram ou foram absorvidas por outras. Pelo meio, perdeu-se informação. Mais, a maior parte dos contadores ficou associado a diferentes configurações de morada: uns ficaram com "apartamento 1", outros com "primeiro andar", outros ainda "apartamento B". E quando houveram alterações de fornecedor, o novo fornecedor consultou as bases de dados nacionais, dos correios e dos councils e não encontrou maneira de relacionar moradas com contadores. E numas moradas o contador era bi-horário, noutros era de tarifa simples... Logo, não havia maneira de cobrar correctamente as pessoas. E isto arrastou-se... até agora!

Ao chegarmos a esta casa, iniciamos o processo de contactar o fornecedor de electricidade e tivemos a completa noção que eles estavam às aranhas. Foi graças aos dados que fomos fornecendo, à ajuda da senhoria e às visitas à casa de técnicos que se foi desenrolando o novelo e se conseguiu atribuir moradas a contadores e o fornecedor pode solicitar alterações para harmonizar as moradas nas bases de dados de electricidade. Mas ainda falta o gás...

Temos a perfeita noção que se fizéssemos o que todos para trás fizeram nesta casa (assobiar para o ar e deixar andar), não pagaríamos nem um cêntimo. Quantos casos destes e similares não haverão por aí e que nunca se irão resolver? Milhares, dizemos nós. "It's hopeless", como disse sabiamente a nossa senhoria.
 

domingo, 28 de outubro de 2012

A saga do reconhecimento - parte II

Prestes a viver o período da Páscoa (inícios de Abril), volto a contactar as minhas referências neste processo para lhes pedir uma carta detalhada da minha actividade profissional durante o período em que trabalhei com cada um deles. Enquanto esperava que esta informação chegasse por correio (porque que tinha de enviar os originais assinados por eles!), descrevi detalhadamente toda a minha vida desde que entrei na universidade até que vim para o Reino Unido. Não quis que lhes faltasse nada!...

Dia 17 de Abril estava a enviar mais um grande pacote para fundamentar e fornecer a tal informação "adicional" requerida. Mais de 15 dias depois, mais precisamente no dia 2 de Maio, recebo nova carta a dizer que receberam a minha reposta ao pedido deles. Deve ter sido problema dos correios (mais) este atraso... na carta disseram que tomariam a decisão final até 3 semanas após a data da carta. Mas o facto é que só dia 3 de Julho (quase 3 meses depois, e após um sem número de chamadas com respostas evasivas e, por vezes, revoltantes!) recebo a tão desejada e mais do que esperada notícia: estava autorizada a exercer Psicologia no Reino Unido! Finalmente, as coisas estavam a melhorar a olhos vistos desde que cá chegamos!

E desde esse passo até começar a ir a entrevistas passou-se apenas cerca de 1 semana! E daí até arranjar emprego menos de 1 mês e meio! Claro que isto não quer dizer que seja assim tão fácil encontrar emprego, é apenas a minha experiência!

Com o meu exemplo, pretendo alertar os eventuais interessados para esta provável espera mas que, tal como eu, se não desistirem valerá bem a pena no fim! No Reino Unido, como em quase toda a Europa, as coisas não estão fáceis e logicamente tenta-se priorizar os nacionais. Os estrangeiros têm de demonstrar muito claramente que são uma mais valia para poderem ser aceites. Mais ainda num país que claramente está com um pé (e meio, dizemos nós) fora da União Europeia e que tende a desvalorizar tudo o que venha do "continente"...

A HCPC regula o exercício das seguintes profissões: técnico de análises clínicas, podologista, terapeuta ocupacional, paramédico, dietista/nutricionista, ortopedista, fisioterapeuta, psicólogo, protésico/ortodontista, radiologista, assistente social (em Inglaterra apenas) e terapeuta da fala. Sem o reconhecimento da HCPC, ninguém pode usar estes títulos profissionais (logo, não pode trabalhar no país). E já se sabe como são os Britânicos quanto às regras...mais, qualquer denúncia quanto à prática de um qualquer profissional destas áreas é analisada e eventualmente sancionada pela HCPC.
Caso pretendam saber mais sobre este a regulação destas profissões, deixo o link da HCPC. Uma outra nota que deixo é que o exercício de qualquer destas profissões não é por tempo indeterminado. Tem de ser renovado de dois em dois anos! Mas isso é igual para todos, nacionais e estrangeiros.

Já os médicos e enfermeiros têm outros reguladores, portanto não posso comentar como será o seu processo. Mas pela amostra do que temos visto, parece-nos que o processo para a regulação dos enfermeiros tem menos empecilhos. Talvez pela grande carência destes profissionais por cá...são uma verdadeira comunidade já! Visitem a Diáspora dos Enfermeiros para o comprovarem!

Boa sorte, caso decidam seguir-nos o exemplo, e não desistam pois também não desistimos e chegamos até aqui!
 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A saga do reconhecimento - parte I

Este post pretende ser mais didáctico (e em jeito de desabafo!) para o pessoal do ramo das Ciências e Tecnologias da Saúde interessado em vir trabalhar para o Reino Unido.

Ora bem, a minha história com a Health and Care Professions Council (HCPC), anteriormente designada por HPC (Health Professions Council), começou em Setembro do ano passado quando imprimi o formulário (medonho q.b.!) para dar início ao processo de ver reconhecidas as minhas habilitações académicas e experiência profissional para obter o direito de exercer a profissão de Psicóloga no Reino Unido.

Desde o preenchimento até à recolha de toda a documentação passou-se mais de um mês. Isto porque estes senhores são muito exigentes e quiseram uma descrição sumária de todas as disciplinas de todos os cursos superiores que tenha frequentado. Imaginam o comboio de folhas e a trabalheira necessária para vasculhar esta informação e traduzi-la! Mais, eles exigiram que fossem as próprias pessoas que dei como referências a preencher a parte que lhes diz respeito (e à mão pois claro, nada de novas tecnologias!). Além de duas referências profissionais, tive também de indicar uma referência de carácter (que atestou a bondade da minha pessoa!).

Após 15 dias de "caça" às minhas referências, lá reuni toda a informação necessária. No dia 15 de Novembro de 2011 enviei o formulário por correio, juntamente com toda a informação solicitada. Recebi uma carta da HCPC no dia 3 de Dezembro a dizer que tinham recebido a minha candidatura e que me dariam uma resposta sobre a sua aceitação até 16 semanas a partir desta data.

No início de Fevereiro (e já a viver no Reino Unido) ligo para a HCPC a saber notícias do meu processo, pois o prazo das 16 semanas estava a chegar ao fim. Os senhores dizem-me que estão à espera que a Ordem dos Psicólogos em Portugal confirme o meu estado de "membro efectivo" e da confirmação do meu grau de Mestre por parte da minha Universidade. Surpreendida com a demora destes dois organismos portugueses para responder a 2 perguntas tão simples, questiono a HCPC sobre o endereço para o qual solicitaram esta informação. Qual não é o meu espanto quando estes senhores me dizem que enviaram o email para a APP (Associação dos Psicólogos Portugueses)! Mas que tem a APP a ver com isto? Nada, mesmo! O organismo que regula a profissão de Psicólogo em Portugal é a Ordem dos Psicólogos. Estes senhores nem ler uma tradução oficial souberam, pois estavam lá escritos todos os contactos! Entretanto, em relação à Universidade, o email tinha ido para os serviços académicos centrais e andava por lá perdido. Portanto, lá contactei os serviços académicos e expliquei a situação. Eles enviaram a informação e o assunto estava arrumado (pensava eu...).

Entretanto, um mês depois de ultrapassadas as 16 semanas (e após muitas chamadas) recebo uma carta em casa (finais de Março, portanto!). Fiquei num misto de alívio e tensão, pois o facto de estar em casa a ver os dias a passar estava a começar a mexer bastante com o meu sistema... (além do mais, longe do suporte da família e amigos).

Mas afinal a carta não passou de uma grande desilusão, pois os senhores da HCPC decidiram suspender a sua decisão final até eu fornecer mais informação (ainda!). Que balde de água fria!! Foram dias verdadeiramente difíceis...

Mas como sou uma mulher do Norte e desistir não faz parte do meu vocabulário, decidi mostrar a estes senhores que tinha valor e que era tão boa como eles a desempenhar a minha profissão!

A saga continua no próximo post!

terça-feira, 12 de junho de 2012

O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido: Parte 2

O post de hoje é dedicado a um assunto que já abordamos aqui, uma vez que hoje tivemos a nossa segunda experiência com o NHS (National Health Service).

O espaço de tempo entre colher as análises e o ter novamente consulta foi de um mês. Nada a dizer, pois eram análises de rotina e sem qualquer tipo de urgência.

Hoje, quando fomos à consulta, a médica perguntou-me qual era o motivo da consulta. Expliquei-lhe que tinha feito análises (que ela tinha marcado) e que queria saber os resultados. Ora bem, sem olhar para mim, respondeu que estava tudo bem. Como esta resposta era insuficiente para mim, perguntei-lhe em pormenor o que pretendia saber. Respondeu-me sem tirar os olhos do computador. Entretanto, disse-lhe que não percebia o porquê de um dos valores que estava a ler, pois era suposto ele estar diferente. Respondeu que também não sabia e que me ia encaminhar para uma consulta da especialidade no hospital. Também me aconselhou a continuar a tomar a medicação que costumo fazer. Sem me perguntar mais nada, passou-me uma receita e disse que me podia ir embora. Claro está que a consulta demorou cerca de 8 minutos!!

Pois é, ou a médica estava num dia não (tem o seu direito, claro) ou então a nossa primeira impressão estava errada e a simpatia esfumou-se...no entanto, o facto de ter passado uma receita sem sequer ter perguntado qual a dosagem que costumo fazer da medicação em causa, mostra falta de profissionalismo e isso não é desculpável com um mau dia (pelo menos para mim não é!).

A imagem de eficiência do NHS desvaneceu-se bastante e a realidade diz-nos que Portugal não está assim tão mal servido em termos de cuidados de saúde (por comparação, claro!). Não são os países ou os idiomas que fazem a diferença, são as pessoas! Bons e maus profissionais existem em qualquer sítio do mundo e em qualquer profissão!
 

terça-feira, 8 de maio de 2012

O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido

Antes de virmos para o Reino Unido informamo-nos sobre o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde Britânico (NHS, o equivalente ao SNS portugûes). Assim, o primeiro passo é o registo no centro de saúde da nossa área de residência.

Quando cá chegamos, procuramos saber qual era o centro de saúde da nossa área de residência. Não descobrimos um, mas sim três num raio de 500m (isto porque cada bairro tem o seu centro de saúde, o que não parece muito viável dado os custos que acarreta!)!! Importa dizer que estes centros de saúde não pertencem todos ao Estado, mas são antes privados que fornecem serviços ao abrigo do sistema público (são pagos pela "caixa", para se perceber melhor).

Optámos que nos inscrever naquele que fica mais perto de nossa casa, mas não o conseguimos fazer na primeira vez que lá fomos, porque existem dias específicos para quem quer inscrever-se.

Portanto, tivemos de lá voltar e nessa vez preenchemos um questionário com os nossos dados pessoais e alguma informação médica. Foi-nos dito que receberíamos em casa o cartão do NHS mas que se precisássemos de vir ao médico por algum motivo, podíamos vir de manhã bem cedo e esperar para sermos atendidos (o equivalente às chamadas "vagas" em Portugal). Mais, disseram-nos que a emissão dos cartões estava com algum atraso e que podia demorar cerca de 2 ou 3 semanas.

Atraso?! Não notamos mesmo nada porque os cartões demoraram cerca de uma semana ou talvez um pouco mais! Se a atribuição de médico de família em Portugal fosse tão rápida...(estive quase 5 anos sem médico de família e vivia na zona do Grande Porto... enfim, adiante).

Em meados de Abril tive necessidade de marcar uma consulta e dirigi-me ao centro de saúde. Pediram-me muitas desculpas mas que só tinham marcação para daí a 2 semanas. (2 semanas e pedem desculpa? Em Portugal, se quisermos marcar uma consulta, marcam-nos para daqui a 6 meses e com muita sorte!). Tudo bem, respondi, pois não tinha qualquer urgência.

Na semana passada fui à consulta. Cheguei antes da hora marcada e só tinha uma pessoa à minha frente para ser atendida pela mesma médica. Quinze minutos depois de ter chegado ao centro de saúde, a médica chamou-me para a consulta. Demorei outros quinze minutos na consulta.

Às 16h estava a sair do centro de saúde e com análises marcadas para o dia útil seguinte, se quisesse, mas como tinha um compromisso tive de adiar, mas ainda assim para 3 dias depois.

Até agora não temos que reclamar do NHS; muito pelo contrário, têm sido rápidos e eficientes!

Mas, infelizmente, nem tudo funciona assim neste país, tal como em Portugal, onde temos organismos e instituições que funcionam bastante bem e outras das quais é melhor fugir.

Não há bela sem senão, não é verdade? :)
 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma aventura no Consulado de Portugal

Um passo importante para quem chega de terras lusas a um novo país é a inscrição no Consulado de Portugal. Importante porque dá conhecimento da nossa presença no país (o que é muito útil no caso de uma emergência), mas também porque é o passo prévio para qualquer outro acto consular que seja necessário. Entre outros, o pedido/renovação/alteração do cartão de cidadão ou passaporte são actos consulares que requerem a inscrição prévia no Consulado. Daí, esta é uma formalidade que se pode ir adiando mas, mais cedo ou mais tarde, vai acabar por ser necessária. Então, para não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, lá encetamos os passos necessários para a inscrição consular.

Ao pesquisar as experiências de vários tugas na blogosfera (Tuga em Londres, London Calling, Londonices), logo percebemos que não ia ser tarefa fácil. Para começar, é preciso marcar com uma antecedência significativa (por email, telefone ou fax) a ida ao Consulado e dizer exactamente o que se quer lá ir fazer! Para cada pedido, uma marcação! Tudo isto devido à crescente afluência de portugueses a estas bandas e de outras pessoas que não falam uma palavra de português mas que tem direito à nacionalidade portuguesa por via das nossas antigas colónias no Oriente…

Já de “pé atrás”, contactamos o Consulado de Portugal em Londres por email. A resposta veio dois dias depois: tomavam nota do pedido, mas a marcação teria de ser feita com o Consulado de Portugal em Manchester, visto vivermos em Cardiff! Estranho, pensamos nós, Londres é mais perto de Cardiff que Manchester, porque raio temos de ir a Manchester? A resposta é aceitável: Manchester fica a 60 km da fronteira com o Norte do País de Gales, logo toda a gente que more em Gales tem de lá ir (mesmo que more a 280 km, como nós!). Contactamos então o consulado de Manchester e marcamos a ida. Como nunca tínhamos ido a Manchester, até se tornou uma boa oportunidade para conhecer (apesar das limitações de tempo de uma viagem de um só dia!).

A marcação foi feita para as 9.15 horas o que significou na prática ter de apanhar um comboio às 4.35 da manhã... o que por sua vez implicou que tivéssemos acordado às 3 da manhã! A viagem começou mal, pois alguém da companhia dos comboios adoeceu e foi preciso substitui-lo, o que significou uma partida com atraso de meia hora. Mas, extraordinariamente, o comboio recuperou o atraso e ainda chegou 3 minutos antes do horário previsto a Manchester Piccadilly (a estação principal de comboios de Manchester), às 8.07 minutos!

O Consulado de Portugal em Manchester está situado em pleno coração da cidade, no segundo piso de um edifício bem bonito, como as imagens documentam.



(A renda é que não deve ser bonita, mas o défice paga…)

A experiência no Consulado, ao contrário do que nós próprios imaginávamos, foi muito boa! Ao chegarmos, reparamos que não havia fila, estava um sossego e não demoramos mais que cinco minutos a ser atendidos. Na frente visível do Consulado estavam quatro funcionários. A funcionária que nos atendeu foi extremamente simpática e solicita, e tudo decorreu sem problemas. Um outro funcionário também nos esclareceu as dúvidas que tínhamos e inclusivamente aconselhou-nos a fazer o recenseamento eleitoral naquele instante, o que nos poupa uma viagem a Manchester de propósito para o efeito. Foi, portanto, uma boa experiência, que contrasta com os tenebrosos relatos sobre o Consulado de Portugal em Londres. O facto de o Consulado de Portugal em Manchester ter sido inaugurado em 2006 e de nesta zona (talvez!) existirem menos portugueses deve justificar a fluidez do serviço. Só por isso valeu a pena ir a Manchester em vez de Londres.

Ainda antes das 10 da manhã estávamos despachados e tivemos assim cerca de 8 horas (a viagem de regresso era às 18.30 horas) para dar uma volta pela cidade de Manchester. O centro da cidade é bastante compacto e é relativamente fácil de chegar às principais atracções a pé. Para vos abrir o apetite aqui ficam algumas fotos do centro da cidade e da zona ribeirinha.



Apesar de ser nitidamente uma cidade vibrante e cosmopolita, confessamos que preferimos “cá em baixo”…são gostos!

A viagem de regresso correu bem pior que a de ida…um acidente numa das primeiras estações em direcção a Cardiff parou toda a circulação e transformou uma viagem de 3 horas e meia numa viagem de 5 horas! 8 horas e meia de viagem em menos de 24 horas é dose, mas pelo menos valeu a pena!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O primeiro passo: a nova casa (3)


Com as mudanças, vêm as contas. E como nada que saiba bem é obtido sem dificuldades, também temos bastante que contar!

Uma das primeiras coisas que fizemos mal chegamos à nova casa foi reportar de imediato à companhia de electricidade e gás (a mesma para os dois, no nosso caso) e à companhia da água que tínhamos chegado à casa, que queríamos comunicar as leituras e abrir ficha na empresa. 

No caso da companhia da água, correu tudo lindamente e ficamos a saber que não tínhamos contador da água em casa, pois a nossa casa ainda é do tempo em que a conta da água depende do valor comercial da casa. Eu explico: até há alguns anos não existiam por aqui contadores de água e a mesma era paga pelo valor comercial da habitação, calculado pelo conselho municipal. Gastasse-se muita ou pouca água, pagava-se o mesmo. No entretanto as coisas mudaram, mas quem quis manter este sistema pôde. Nas novas casas e para quem livremente mudou para o sistema de contador, já não se pode voltar a usar este sistema de pagamento da água. No nosso caso, temos uma casa sem contador e, depois de reflectirmos um pouco, pensamos que não valeria a pena mudar o sistema (a senhoria não tinha objecções à mudança).

Quanto à companhia de electricidade e gás…meia dúzia de chamadas e mais de meia hora de chamadas para o call centre (a pagar, pois claro!) não chegaram ainda para resolver os problemas! Os antigos inquilinos da casa tinham as contas em nome do “ocupante”: ou seja, não em nome de ninguém em específico. Mas isso não é um problema de maior: o grande problema é que eles deviam (e muito) à companhia e chegámos a receber cartas a ameaçar o corte de serviço e a instalação de um contador pré-pago (tipo cartão de telemóvel)! Para além de cobrança judicial, evidentemente. Esta parte foi ultrapassada com o nosso envio de documentação a provar a nossa entrada na casa e com a abertura de uma ficha em nosso nome (ensinamento do dia: fujam sempre de contas em nome de “The Occupier”!! Criem sempre o vosso próprio registo!). Contudo, um novo problema apareceu (e ainda não desapareceu!): deu-lhes para cismar que temos um contador bi-horário (isto é, com duas leituras). Pois, mas definitivamente não é! E enquanto esta situação se mantiver quem é prejudicado somos nós pois a tarifa bi-horária não nos é nada vantajosa aqui. Já me cansei de ligar para lá, mandei um email de reclamação, mas nada até agora. Próximos capítulos em breve…

A Internet e o telemóvel não nos trouxeram quaisquer problemas até ao momento. De notar que, para se ter boas tarifas em ambos os serviços, é regra geral necessária a fidelização por um mínimo de doze meses, tempo que para nós é um (grande) ponto de interrogação…

Outro passo essencial para quem se muda para um novo país por um período minimamente razoável é a abertura de uma conta bancária nesse país. E, para não variar, mais complicações! Tínhamos visto aqui que abrir uma conta não seria tarefa fácil, mas que no HSBC era bastante provável conseguir. Lá fomos, levámos toda a papelada, tudo corria muito bem até que…o “sistema” recusou-se a abrir-nos a conta! Nem a mim sozinho, nem à Joana, de forma nenhuma! A senhora bem nos perguntou se alguma vez tínhamos aberto conta cá, se tínhamos alguma vez falhado a mensalidade de alguma coisa, por exemplo… é que simplesmente o “sistema” deu-nos uma nega... e temos uma carta a dizê-lo textualmente, vai ficar no nosso "relicário" pessoal! Nunca nos tínhamos sentido tão junk (lixo), tão... PIIGS! Não temos rating suficiente para abrir uma conta no HSBC, mesmo sem qualquer histórico no país. A solução foi então tentar outro banco. Foi-nos sugerido um mais “internacional” e fomos então ao Santander. Lá o atendimento foi muito sofrível (incomparavelmente pior que o HSBC) mas lá conseguimos abrir uma conta! Mas nitidamente foi à rasquinha…e apenas uma conta de estudante internacional (ou seja, só em meu nome), o que significa que temos de pagar 5 libras mensais nos primeiros doze meses de comissões, por não termos histórico bancário no Reino Unido. É o “noviciado”… No caso da Joana, nesta fase só se pôde candidatar a uma conta de serviços mínimos bancários, em que só se pode fazer depósitos e levantar dinheiro no multibanco. Mais nada, nem usar o cartão no supermercado para comprar o pão! 

Para terminar a saga das contas (para já, quem sabe se não voltamos assunto!), falta falar do imposto municipal (Council Tax). Este imposto é o equivalente ao IMI em Portugal, e serve para financiar o tratamento dos jardins, a recolha de lixo, a polícia, etc. Eu já sabia por experiência própria que, enquanto estudante a tempo inteiro, estaria isento do pagamento deste imposto. O que pensava é que a Joana também estaria. Mas não está, infelizmente. Contudo, existe um desconto de 25% para pessoas que moram “sozinhas” (visto eu não contar para a contabilização do imposto) e desta forma o custo é mais leve. Este imposto, tal como no caso da água, é baseado na avaliação que o conselho municipal faz da habitação.

Outras burocracias obrigatórias para quem chega de novo ao país são:
- arranjar um número de Segurança Social (National Insurance Number), através de um call centre do centro de emprego (Job Centre), quando se começar a trabalhar;
- obter um registo criminal (isto é facultativo, depende da profissão), que pode demorar 2 a 4 semanas a chegar. Este registo é pedido pelo empregador (mas pago pelo candidato!) no período de selecção para um novo emprego que lida directamente com o público (por exemplo, nos ramos da saúde e educação). 

Existem certamente outras burocracias (e chatices) neste período de estabelecimento numa nova realidade. Quando passarmos por elas, partilharemos a experiência!
 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O primeiro passo: a nova casa (1)


Agora que as coisas estão mais calmas por aqui está na hora de dar nova vida a este espaço! Reparem nos links laterais para as redes sociais: O Meu Lado Solar está no Google + e no Twitter! Juntem-se a nós!

Já tinha falado sobre as casas em Cardiff aqui, mas na altura o processo foi relativamente simples, pois o que pretendia era uma casa partilhada com estudantes. Para isso, a Cardiff University providencia contactos de senhorios (landlords) e é só ligar directamente e ver as casas. Tipicamente estas estão bem equipadas (incluindo todo o tipo de electrodomésticos) e as contas estão em nome do senhorio, que as faz reflectir no valor da renda. Pois bem, mas desta vez as coisas eram diferentes…

O que pretendíamos era um “apartamento” só para nós (chega de partilhar, como tinha prenunciado aqui)! E pensávamos nós que não seria muito difícil e que quatro dias num hotel chegariam para escolher uma casa e ir morar para ela… nahhh resposta errada, como demonstrou a prática!

Quando chegamos a Cardiff, trazíamos uma lista pequena de casas a ver que tínhamos visto nestes sites (que recomendamos!): o Rightmove e o FindAProperty. Aqui começam as diferenças: 99% das casas aqui apresentadas são representadas por agências imobiliárias (são às dezenas, senão centenas só em Cardiff!! Existem mais de 18000 no Reino Unido inteiro!). É um mercado sem paralelo em Portugal (pelo menos até à nova lei das rendas). Contactamos as agências e o quadro desde logo não foi muito animador: ou as casas já estavam arrendadas e o anúncio estava desactualizado, ou os pré-requisitos pedidos eram incomportáveis (do estilo, “têm de pagar 6 meses de renda em avanço visto não trabalharmos normalmente com estudantes” ou “têm algum fiador (!!) que tenha residência própria no Reino Unido? Se sim, óptimo, se não têm de pagar £1000 mais o depósito mais uma renda em avanço”). Para já não falar nas comissões que elas cobram após manifestarmos o nosso efectivo interesse. Adiante! Então fomos deixados apenas com uma opção no primeiro dia, mas que até era interessante! Porém, não podíamos tomar uma decisão apenas com uma visita! Assim, colocamo-nos em campo para novas opções e andamos literalmente de um lado ao outro da cidade a ver casas nos dois dias seguintes!

E há de tudo, como na farmácia: casas limpas, sujas, frias, húmidas, barulhentas, em que tínhamos de partilhar electrodomésticos (por ex., a máquina de lavar!) e algumas boas, claro! Contudo, a altura do ano não era famosa para ver casas: a maioria das melhores casas está ocupada nesta altura do ano (até ao fim do ano escolar, entre Junho e Julho) e o nosso limite de renda era razoável mas limitava um pouco a escolha nesta altura do ano. Mas quando entramos na nossa futura casinha, ficamos logo com a sensação “Vai ser esta”! E assim foi! No fim do dia de Terça-feira corremos até à agência para "reservar" a casa (para a retirar do “mercado”). E, pensamos nós, está feito! Errado! Foi-nos dito que só poderíamos entrar na nova casa na Segunda-feira seguinte (6 dias depois!). E porquê? Porque precisavam de fazer o nosso processo de referenciação: consultar e validar o nosso balanço bancário dos últimos três meses, contactar o meu antigo senhorio para ver se éramos de confiança, telefonar ao meu supervisor na Cardiff University, verificar o recibo dos meus pagamentos da Fundação para a Ciência e Tecnologia (mesmo estando em Português) entre outras eventuais verificações que nos ultrapassaram. Pois, e então as 4 noites de hotel derraparam para 7, com tudo o que isso acarreta. E só não derraparam para 9 porque um santo de um colega meu da universidade nos cedeu a casa dele nas últimas duas noites. Não há palavras para agradecer este gesto e tudo o mais que ele e a namorada têm feito por nós! Por fim, na Segunda-feira dia 6 de Fevereiro assinamos o contrato de arrendamento (depois de o ler durante uma hora e mesmo assim termos ficado com a sensação que só faltava lá dizer que abdicávamos da nossa alma em favor do senhorio)! Mas a história não fica por aqui… na verdade ainda mal começou! Esperem pelas próximas novidades!

Em suma, o processo (genérico e sumarizado) que recomendamos para a escolha de uma casa para arrendar no Reino Unido é:
  1. Contactar alguém local que vos possa dar uma noção geral de como são as zonas residências (se são seguras, calmas, etc.), se conhecem alguma boa agência (pois algumas são bastante manhosas, segundo nos disseram), entre outras perguntas que achem pertinentes.
  2. Consultar o Rightmove ou o FindAProperty e encontrar uma lista (exigente) de casas a visitar, conforme as vossas necessidades e possibilidades. Notem que os valores apresentados geralmente apenas se referem à renda, não incluem contas. Normalmente a oferta é muita, portanto procurem com calma e critério. Há muitas casas que se dizem totalmente mobiladas/equipadas (fully furnished), mas isso é um chavão muito relativo...
  3. No processo de visitas, perguntem tudo e desconfiem de promessas (por ex., “isto está partido mas vai ser arranjado”). Perguntem o que está incluído na mobília da casa, se alguma conta está incluída, se a casa é gerida pela agência ou pelo senhorio (para no caso de algo se avariar quem contactar), que tipo de aquecimento existe (se é a gás ou electricidade), se é possível redecorar as paredes (por ex., pendurar quadros, fotos) e alterar a disposição do mobiliário, se o jardim é de uso comum, … Perguntem ainda como será efectuado o pagamento da renda (por ex., se é por transferência bancária directamente para o senhorio) e como poderão “reservar” a casa se estiverem interessados. Aqui é que entram as comissões das agências (agency fees), estejam atentos pois estas variam de agência para agência.
  4. Se gostaram de alguma casa, façam o depósito e preparem-se para a “dor” da espera causada pelo processo de referenciação que descrevi. Ter histórico de arrendamento no Reino Unido naturalmente ajuda. Se tudo correr bem, em 3 a 5 dias úteis estarão a assinar o contrato de arrendamento (leiam-no muito bem e não assinem nada que não percebem ou com o qual tenham objecções!)
E depois a saga continua… estejam atentos