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domingo, 22 de setembro de 2013

Seguro "automóvel"... ou seguro "condutor"?

Hoje, O Meu Lado Solar volta ao registo informativo. Este post é sobre seguro automóvel e é baseado nossa experiência por cá. Esperemos que ajude quem está a dar os primeiros passos no Reino Unido e que dê aos leitores no nosso Portugal uma ideia das diferenças que se podem encontrar!

Fonte: andinaseguros.com.br

Durante a novela da legalização do carro que vos descrevemos aqui, tocamos ao de leve na questão do seguro automóvel (vamos chamar-lhe assim por enquanto!). Este é outro assunto muito particular do Reino Unido (pelo menos, por comparação com Portugal).

Tal como muitas outras coisas, o seguro automóvel é um mercado super competitivo e em que temos à disposição um arsenal de sites de "comparação" (por exemplo, MoneySupermarket, Confused.com). Nestes sites colocamos toda a informação necessária à cotação do seguro e o motor de busca encaminha-nos para as cotações mais baratas, indicando-nos todos os detalhes de cobertura das mesmas. Com um clique, somos encaminhados para o site da seguradora e é praticamente "chave na mão": estipula-se o método de pagamento e recebemos no e-mail a apólice de seguro. Sim, no e-mail! Aqui não é necessário uma "carta verde" física, pois a polícia aqui anda bem artilhada com ferramentas informáticas que lhes permite ver na rua, na hora, se determinada matrícula está legal (tem seguro válido, impostos pagos, inspecção obrigatória, ...).

Tendo dito isto, está bom de ver que quando o seguro está em vias de expirar (e ser renovado automaticamente por mais um ano), é uma corrida aos sites para procurar um novo seguro/segurador mais vantajoso. Não se vislumbra que isto possa acontecer em Portugal, pois a parte menos interessada é a própria indústria seguradora! Quanto mais as pessoas se acomodarem ao que tem, não haja ferramentas acessíveis para que as pessoas possam considerar mudar e não se vislumbre um Regulador que possa "agitar" a concorrência, "tudo vai bem no Reino das Seguradoras"...

Regra geral, fazer um seguro no Reino Unido é mais caro que em Portugal, mas há uma enormidade de factores que influenciam o preço final da apólice e que o podem tornar mais ou menos atractivo. Como em todos os seguros, estes factores influenciam o preço final com base numa chamada percepção de "risco": profissão do condutor, meio envolvente, tipo de utilização prevista... Por exemplo, mudar a localização onde deixamos o carro durante a noite de "lugar aberto à frente de casa" para "garagem fechada" pode fazer uma grande diferença... diferença que varia conforme a cidade (em March esta diferença é menor que em Londres, por exemplo).

Por falar em Londres, fazer seguro por lá pode tornar-se de tal forma caro que há muita gente que "arrisca" colocar a morada de um amigo/familiar na apólice para reduzir o prémio de seguro. No caso de novos condutores em cidades como Londres, o prémio de seguro é de tal forma elevado que está agora em vias de ser "oferecido" por seguradoras um seguro mais barato quando os condutores aceitam a colocação de uma "caixa negra" no carro. Esta caixa negra é uma espécie de "Big Brother": regista percursos efectuados (em que zonas), travagens e acelerações bruscas, velocidades médias, ... as seguradoras alegam que o condutor é duplamente favorecido por isto: para além de ter um seguro mais barato naquele ano, aumenta muito o potencial de redução do prémio de seguro nos anos seguintes. Se for bom condutor, claro! Numa perspectiva benevolente, pode-se dizer que isto é interessante... mas é realmente um caminho muito perigoso (em nossa opinião). Felizmente, muito poucos condutores têm aderido a esta "inovação".

No entanto, a diferença fundamental entre Reino Unido e Portugal em relação ao seguro automóvel é que por aqui o seguro é, na verdade, ao condutor! Explicando, quando temos um novo carro é preciso actualizar a apólice para o incluir e não fazer uma nova apólice para esse novo carro. Como a apólice é focada no condutor, é também determinado qual é o uso a dar ao veículo: se é para uso esporádico, para viagens casa-trabalho-casa, se é para uso profissional... esta parte não é diferente de Portugal. O que já não é vulgar é que muitas empresas só pagam despesas de deslocação a colaboradores, inclusivamente quando usando carros da empresa, que tenham activado na sua apólice a opção de uso profissional (Business use)!

É mais um caso de "excesso regulatório", dizemos nós, mas é disto mesmo que este país é feito. Orgulhosamente, garantimo-vos!
 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Legalizar o carro trazido de Portugal: só para corações fortes! (parte 2)

Depois de muita pesquisa e triagem neste manual do governo britânico e neste panfleto, encontramos a forma para legalizar o nosso carro.

Estes são, em Junho de 2013, os passos para trazer um carro ligeiro (não novo e para uso exclusivamente privado) de Portugal para o Reino Unido.

##############

Passo 1 - Comunicar à HMRC (finanças britânicas) neste site, no prazo de 14 dias, a chegada ao país do veículo. Mesmo que sejam não residentes no Reino Unido têm de o fazer. Ah, e tenham a factura do veículo à mão.

Passo 2 - Assegurar que o veículo está conforme às normas britânicas,

Assumindo que o veículo foi comprado nos últimos dez anos, devem ser portadores do Certificado Europeu de Conformidade (EuroCoC). O EuroCoC é emitido pelo fabricante na compra e prova que as características técnicas do veículo satisfazem os requisitos ambientais e de segurança da União Europeia. Se não o tiverem, contactem o concessionário onde compraram o veículo. Em último recurso, existem empresas que emitem esses certificados por cerca de 100 euros (depende do veículo).

Para além do EuroCoC, o Reino Unido tem requisitos adicionais (validados pela Vehicle Certification Authority - VCA). No caso de estados-membro onde se conduz à esquerda (todos os outros excepto Irlanda, Malta e Chipre) o que vou escrever a seguir neste passo pode não ser necessário. A VCA requer, para além do Certificado Europeu de Conformidade, o cumprimento de três características no veículo:
- as luzes frontais devem focar para a esquerda (por causa do encandeamento);
- o conta-quilómetros deve apresentar valores em milhas por hora;
- a luz de nevoeiro traseira deve ser à direita, no meio ou nos dois lados.

Todas estas características tem de ser atestadas por escrito por uma garagem reconhecida e enviadas para a VCA. Se o carro tiver 3 ou mais anos, tem de ser efectuada uma inspecção periódica obrigatória do veiculo (aqui chama-se MOT - Ministry of Transport) e ser enviado também o respectivo comprovativo.

No caso do conta-quilómetros foi fácil, pois o contador digital é reprogramável para outros sistemas de medição.

No caso das luzes frontais, já não fomos tão afortunados. As nossas luzes, naturalmente, focavam para a direita, o normal em países onde se conduz à direita. O problema é que o nosso conjunto de faróis é estático e não é possível regular o alinhamento horizontal nem de forma manual nem automática. Logo, tivemos de adquirir um conjunto de faróis frontais novo (ou mais ou menos novo).
Para compor a festa, está bom de ver que a nossa luz de nevoeiro tinha de estar à esquerda, exactamente onde não devia estar aqui... mas este problema resolveu-se com umas alterações nas lâmpadas, foi mais fácil.

Após tudo feito e certificado por escrito pela garagem, de correspondência registada perdida (é verdade!), e passados dois meses desde o início lá tivemos o OK da VCA quando à conformidade do veículo para o Reino Unido.

Passo 3 - Obter um certificado de seguro britânico (provisório).

Para podermos registar o carro no Reino Unido, é necessário ter um certificado de seguro britânico. É verdade, mesmo com o português em vigor! A carta verde que têm convosco garante-vos protecção contra terceiros em caso de acidente, mas é inútil para estes efeitos de legalização do carro.
Mas o pior de tudo mesmo é que 95% das seguradoras deste país não vos fazem seguro sem uma matrícula britânica! É o dilema do ovo e da galinha no seu esplendor: não conseguimos registar o carro sem seguro; não nos dão seguro sem registo!

O que vale é que existem os outros 5%, que estão dispostos a fazer-nos o seguro com base no número de chassis do veículo. Para quem não sabe, o número de chassis é um número de identificação único do veículo que podem encontrar algures na carroçaria do mesmo. Com condições bastante restritivas, claro! No nosso caso, fizemos um seguro válido por 30 dias (não renovável) que só permitia um titular (o proprietário do veículo) e só cobria viagens "sociais" (não cobria "casa-trabalho-casa"!). Um seguro "não-seguro", claro está. Mas como tínhamos a nossa carta verde portuguesa que nos cobria o restante, não havia problema. Que remédio tinha de não haver, senão não poderiamos usar o carro! Este foi literalmente um seguro "para inglês ver", mas é assim que eles querem!

Passo 4 - É agora tempo de preencher formulários para a DVLA (o equivalente ao IMTT). Todos os formulários e manuais necessários para este efeito não se encontram nos correios, tem de ser pedidos online aqui, escolhendo a opção import pack.

É preciso preencher um formulário extremamente detalhado sobre o veículo. Esses detalhes devem ser obtidos no EuroCoC. Juntamente com o formulário, devem seguir os seguintes originais:
- certificado de seguro britânico;
- certificado de inspecção obrigatória - MOT (no caso do carro ter mais de 3 anos);
- documentos único automóvel português do carro (sim, isso mesmo!);
- cópia do vosso passaporte / CC (no site eles dizem que querem o original, mas ao telefone disseram-me que bastava uma cópia);
- um documento/conta que prove a vossa morada;
- o EuroCoC;
- o documento de conformidade passado pela VCA.
- o pagamento da primeira inscrição do veículo (55 libras);
- o pagamento do primeiro ano de imposto automóvel do veículo - tax disc. (Este valor é baseado quase exclusivamente nas emissões de CO2 do veículo. No nosso caso foram 20 libras. Tabela completa aqui).

Enviem tudo isto em Special Delivery (é mais caro, mas vale bem a pena a paz de espírito!). Os pagamentos podem ser enviados por cheque ou vale postal.

Passo 5: Se tudo correr bem, em 1 ou 2 semanas recebem a confirmação de que tudo está OK e recebem a vossa matrícula britânica! Passados uns dias chega o documento único britânico, que eles aqui chamam logbook.

Passo 6: Fazer matrículas!

No Reino Unido, a matrícula traseira deve ser amarela, por questões de visibilidade nocturna. Podem e devem escolher ter o simbolo da União Europeia na matrícula, pois assim não precisam de por um autocolante na traseira do veículo a dizer "GB" quando forem dar uma volta ao "continente". :)

Aqui podem encontrar uma lista de fornecedores autorizados de matrículas. Uma solução económica pode ser comprarem as matrículas no eBay num fornecedor autorizado e colocá-las vocês mesmos. Sim, é seguro!

As matriculas ficam normalmente prontas de um dia para o outro.

Passo 7: Fazer uma apólice de seguro para a nova matrícula britânica e cancelar o seguro português.

Uma coisa boa aqui no Reino Unido é que há comparadores para quase tudo: fornecimento de electricidade, gás, contratos de telemóveis, televisão, internet, ... e, claro, seguro automóvel.

Um dos melhores sites de comparação é o Money Supermarket. Aqui devem encontrar as melhores cotações possíveis para o vosso veículo, tendo em conta o vosso perfil enquanto condutores, as características do veículo, o local onde vivem, entre outros factores. Em 10 minutos ficam com o seguro automóvel praticamente resolvido.

Passo 8: Cancelar a matricula portuguesa junto do IMTT

Este passo deveria ser desnecessário. As autoridades britânicas devem entrar em contacto com as portuguesas para este efeito mas, pelo que lemos nos fóruns de portugueses noutros países em condições semelhantes, é melhor não nos "fiarmos na Virgem".

O Código da Estrada diz:

"O cancelamento da matrícula deve ser requerido pelo proprietário ... quando é atribuída matrícula noutro país.
a) Sendo o veículo matriculado num Estado-Membro, este deve comunicar ao IMTT a nova matrícula atribuída para efeitos de cancelamento automático da matrícula nacional, sem prejuízo dos interessados diligenciarem junto do IMTT esse cancelamento."
Pois é melhor então prevenir que remediar, para evitar que apareça imposto automóvel por pagar.

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E é isto o que é preciso fazer, em termos gerais e a correr bem! Daunting (assustador), como se diz aqui, não é?

Fica o serviço público d' O Meu Lado Solar. Esperamos que seja útil a alguém, nem que seja para perceber que só mesmo em condições especiais vale a pena nos darmos a este trabalho!
 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Legalizar o carro trazido de Portugal: só para corações fortes! (parte 1)

Começar de novo num país é como um videojogo: passamos diversos "níveis" até chegarmos ao desafio final, ao "boss". Os "níveis" incluem o reconhecimento de habilitações, a inscrição em serviços de saúde e a "inculturação" habitual quando se chega a um novo país. O "boss", definitivamente, foi legalizar o carro que trouxemos de Portugal!

Um momento simbólico...
Acreditem que chegar a esta fotografia foi um desafio à tenacidade, ao amor ao veículo e, já agora, à paciência. Vamos poupar-vos a detalhes desnecessários. Neste post fica apenas um "cheirinho" da nossa experiência de trazer o carro para o Reino Unido. No próximo post fica o "manual" de como o fazer (aqui ou, com pequenas modificações, em qualquer outro Estado-Membro da União Europeia).

Tendo disto isto, a primeira observação é: só tragam o carro para o Reino Unido se for mesmo necessário ou se houver uma razão muito forte/imediata para o fazerem! Esta constatação não é nova para nós: apenas trouxemos o carro pois precisávamos de uma solução rápida (e o tempo escasseava na altura), porque o carro era praticamente novo e, vá, porque tem grande significado material (e imaterial) para nós. Os carros aqui, novos ou usados, são mais baratos e têm volante à direita, o que dá jeito nestas estradas :). Logicamente, o prémio de seguro sobe em carros conduzidos à esquerda. Tudo isto são argumentos de peso para não trazer o carro. Mas os nossos argumentos pesaram mais (e não estamos de todo arrependidos!).

Tendo chegado ao Reino Unido no Pont Aven em Setembro, os seis meses seguintes decorreram sem problemas de maior com o veículo. Habituarmo-nos à condução aqui foi bem menos complicado do que se possa pensar e isso deve-se em grande medida às boas estradas, à orografia plana e, é preciso frisar, ao civismo dos condutores britânicos (nisso temos muito a aprender com eles!).

Ao chegar perto dos 6 meses, foi hora de começar a pensar em legalizar o veículo. No meu caso, dado ser considerado não residente aqui (era estudante e as minhas conexões "profissionais" estavam em Portugal) e o carro não ser novo (não é novo se tiver sido comprado há mais 6 meses ou tiver 6000 milhas - aproximadamente 10000 km) poderia circular com ele aqui durante 183 dias por ano sem comunicar nada às finanças (HMRC) e ao IMTT daqui (DVLA) desde que tudo estivesse regularizado em Portugal. #### Um aparte: em Abril de 2013, o governo do Reino Unido mudou esta legislação e agora qualquer pessoa que chegue com um carro de fora, seja residente ou não, tem de comunicar em 14 dias esse facto à HMRC. ####

Do pensar em legalizar ao fazer foi uma grande distância e os obstáculos foram como minhocas: a cada "escavadela", mais uma. E cada vez maiores!

No próximo post descrevemos então os passos necessários para levar esta "empreitada" a bom termo, seja aqui ou noutro Estado-Membro. Esperamos que sejam úteis a alguém desse lado!