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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O Natal, lá e cá

Com o Natal a chegar, anda toda a gente atarefada com os preparativos. As preocupações com comida por aqui não são tão grandes como em Portugal (pelo menos pelos nossos lados), mas há uma azáfama muito própria da época no ar.

O prato central do Natal em Inglaterra (na maior parte dos lares) é o peru recheado assado no forno, com todos os acompanhamentos habituais. Nao é muito diferente de alguns sitios em Portugal, onde em vez do bacalhau/polvo há peru. A grande diferenca está em quando isso acontece. Enquanto que em Portugal o "grande momento" é na véspera e a antecipação da meia noite têm um grande papel, no Reino Unido o que conta mesmo é o dia de Natal.

Peru de Natal à Britânica
A véspera de Natal é uma noite como as outras por aqui. Pelo contrário, o dia de Natal funciona com um grande dia de "Sunday lunch". Toda a gente arrebita (mais ou menos) cedo, abrem-se presentes, vai-se à missa de Natal (os que vão) e ao parque em família e almoça-se tarde (comparado com o normal), mas em grande. No inicio da refeição todos rebentam em conjunto os famosos "crackers" e vêm o que lhes calhou em sorte. Para além da "coroa" de Natal, vem sempre um brinde ou uma anedota. É assim uma espécie de "kinder surpresa", que ajuda a animar as hostes para a longa tarde.


Acaba por ser a única refeição do dia, a que se seguem jogos e/ou filmes. Felizmente nunca tivemos a experiência em primeira mao de um dia de Natal por Inglaterra, mas é assim que costuma funcionar, segundo amigos. Em Portugal, bem sabemos, o dia de Natal é também bastante atarefado, mas o ambiente ja é um bocadinho mais de "ressaca", dada a comezaina da noite anterior. A energia começa-se a esgotar logo a seguir ao almoço e acaba por nao haver tanto "movimento" como na noite anterior.

Independentemente das diferenças, o Natal como sempre o conhecemos é o "nosso" Natal e não o mudariamos nem um bocadinho. Tenho a certeza que os britânicos pensam o mesmo em relação ao "seu" Natal. De uma forma ou de qualquer outra, um Feliz Natal para todos!!

sábado, 10 de dezembro de 2016

Afternoon tea

Outro deleite da estação Outono/Inverno é o afternoon tea. Sim, o "chá da tarde". É uma espécie de lanche ajantarado, mas bem diferente do habitual em Portugal. Normalmente servido entre as 2 e as 5 da tarde, a composição do afternoon tea é variável, não existem dois iguais. A regra é que seja composto por três camadas: salgados na base; doces no meio; e no topo, o rei da festa: scones com compota e clotted cream, pois claro. E a refeição é feita por esta ordem, dos salgados até aos scones. Tudo isto normalmente acompanhado de chá (ou café, para os menos tradicionalistas. Em alguns casos, para os mais requintados existe a opção de um copo de espumante). Eis um afternoon tea que tivemos o prazer de degustar recentemente.



Regra geral os salgados são vários tipos de sandes em pão de forma sem côdea, mas neste caso temos uma mistura com outras iguarias. Destaque para o scotch egg, que consiste num ovo cozido envolvido em carne de salsicha e, por fim, panado em pão ralado. Sabe melhor do que soa!



Os doces nesta versão são uma mistura de britânico e continental: não falta o tradicional brownie e um menos convencional marshmallow de côco, mas temos também mini-eclairs e pavlova de chocolate branco.



Invariavelmente no topo temos os scones, um dos ex-libris da cultura britânica. São normalmente acompanhados por compota e uma de duas opções: manteiga ou clotted cream. Clotted cream é um tipo de natas que é obtido a partir da fervura do leite gordo de vaca (a "pele" do leite como diz muita gente em Portugal).


Se estiverem no Reino Unido por esta altura do ano, é uma experiência de degustação e tanto desfrutar de um afternoon tea numa tradicional casa de chá com a lareira acesa... imperdível!

sábado, 3 de dezembro de 2016

Luzes de Natal

O acender as luzes de Natal é outro típico acontecimento de fim de Outono pelo qual vale sempre a pena esperar.

Por estas bandas também toda a terra e terrinha tem o seu evento de acender as luzes. Mas Bury St Edmunds não facilita neste tipo de eventos. O acender das luzes "dura" uma tarde inteira com direito a corte de trânsito na praça principal. Um feito, principalmente tendo em conta que estamos a falar de um dia a meio da semana! Divertimentos, barraquinhas, decorações, todo o negócio de rua aberto e até um Pai Natal tenor, não faltou nada. Surpreendentemente, ou talvez não, no pico da festa estavam muitas centenas de pessoas no local! Ficam algumas fotos do momento.

O Pai Natal tenor

Divertimentos

A praça principal de Bury St Edmunds durante o evento

O momento do acender das luzes de Natal, com direito a chuva de confetti


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Made in Portugal

Em Portugal temos a mania que só o que é de fora, isto é os produtos estrangeiros, é que são bons. Desta forma, desvalorizamos tanta coisa boa que temos no nosso país! Mas quando estamos fora do nosso país as coisas mudam completamente de figura pois sentimos muita a falta de determinadas coisas que em Portugal damos como garantidas.

Coisas como a nossa comida, o nosso vinho, o nosso pão, o nosso bom gosto no vestuário, do Sol, do poder ir à praia de biquíni e até tomar banho se nos apetecer, do nosso azeite divinal, na nossa pastelaria fina (as natas, por exemplo!), da nossa variedade de peixe fresco, do calor humano das pessoas (pelo menos no Norte do país, com as devidas excepções noutras regiões!) ... e a lista continua. Assim é nossa "obrigação", já que estamos "cá fora", levar o nosso nome bem longe e dizer com orgulho "Sou Portuguesa!!". Vamos lá ter orgulho do nosso país e de dizer sim "isto é made in Portugal".




Uma das coisas que mais admiro nos ingleses é a forma como eles "vendem" a imagem do país e dos seus produtos ao mundo e em particular à Europa. Vá Portugal vamos aprender com quem sabe a vender o nosso país e os produtos nacionais. Pois o que É NACIONAL É BOM!!


Nós, por cá, continuaremos a levar o nome do nosso país bem alto e a dizer com orgulho que SOMOS PORTUGUESES e que um dia queremos voltar para o nosso país, a nossa casa, a nossa família e os nossos amigos. Resta-nos esperar que esse dia não esteja num futuro demasiado longínquo...

quinta-feira, 21 de maio de 2015

"Um engenheiro foi chamado"

Esta é uma expressão muito vulgar por estes lados, que causa estranheza ao comum de nós, portugueses. Um médico foi chamado, tudo bem, mas um engenheiro?!

"An engineer has been called"... (fonte: www.365pubs.com)

Pois, o ponto aqui é perceber o que é um "engenheiro" por estes lados. Desde tempos para além do nosso conhecimento, um engenheiro é alguém que resolve problemas do dia-a-dia em nossas casas, onde trabalhamos ou na via pública. Até aqui tudo bem, na definição portuguesa do termo. A diferença salta à vista quando andamos na rua e vemos carrinhas de "heating engineers", "plumbing engineers" ou (heresia das heresias!) "electrical engineers". Ou seja, técnicos de ar condicionado, canalizadores e electricistas, respectivamente! Toda a gente neste pais que trabalhe no sector da construção/manutenção usa livremente o título "engenheiro". Então onde se situam os engenheiros, tal como os conhecemos em Portugal? Bem, não há grande (aparente) distinção. Um "electrical engineer" tanto pode ser um engenheiro electrotécnico como um electricista, um "civil engineer" tanto pode ser um engenheiro civil como um trolha. É assim mesmo. Já ouvi uma pessoa contar que quando uma vez se apresentou como engenheiro electrotécnico lhe perguntaram se tinha feito a instalação eléctrica da casa dele...

Apesar do significado tradicional da palavra engenheiro por estes lados, que por isso mesmo não pode ser "protegido", ainda muita gente fica frustrada com a situação. O título controlado "chartered engineer" (engenheiro "certificado", numa traducao muito livre), atribuído pelo equivalente britânico da Ordem dos Engenheiros, não tem feito o suficiente para sensibilizar o público para a profissão e separar as águas. Na verdade, a percepção geral da palavra "engenheiro" é considerada um dos motivos para a relativamente baixa proporção de alunos que vai para cursos universitários de engenharia por cá. Os adolescentes não se sentem atraídos a serem engenheiros, pela conotação publica e imagem que se tem do que é um engenheiro. Como calculam, isto sai e vai continuar a sair muito caro ao Reino Unido. Estima-se que 2.2 milhões de engenheiros serão necessários na próxima década no Reino Unido se este quiser manter um papel de liderança.

A questão do titulo "engenheiro" é tema mais que recorrente nas cartas dos membros para a revista da Ordem dos Engenheiros daqui. Deixo-vos com um desencantado desabafo de um membro, na minha opinião um das mais engraçadas cartas que li sobre o tema na revista. Para quem não está tão habituado ao inglês, o membro questiona porque não lhe chamam médico se ele é capaz de medir a sua própria tensão arterial, visto que para ser engenheiro basta apenas saber usar uma pá...

Fonte: revista "Engineering & Technology" do Institute of Engineering and Technology (IET), Fevereiro de 2015


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Chá das 5

Desde muito novos fomos acostumados à expressão "chá das 5". Proveniente de uma certa ideia romântica sobre o Reino Unido (provavelmente tendo em mente a Rainha), é uma expressão que povoa as nossas mais remotas memórias, seja pelo programa da Teresa Guilherme ou pela recordação do chá de cidreira (ou, com muita sorte, camomila) e das sensaboronas bolachas Maria ou "água e sal" por volta daquela hora. Mas será que falamos da mesma coisa no Reino Unido quando falamos do "chá das 5"?

Às 5 da tarde no Reino Unido tudo o que é casa de chá já fechou ou está a fechar. Às 5 da tarde está sim terminado o dia da grande maioria da população e é hora de voltar a casa. Tradicionalmente a classe média e operária neste país chama "tea" à refeição que faz ao chegar a casa entre as 5 e as 6 e que é, efectivamente para os nossos padrões lusitanos, o jantar deles. Abaixo está um exemplo de um "tea" inglês:

Pie and mash with gravy and peas (tarte de carne com puré, molho e ervilhas (fonte: TripAdvisor)
Como se isto já não fosse complicado o suficiente, estas pessoas chamam à refeição que fazem ao meio-dia "dinner". As primeiras vezes que ouvimos isto pensámos que ou se tinham enganado ou que nos estavam a gozar. Mas com o tempo já nos habituámos. Ah, e ainda existe a "supper" (ceia), mais ou menos pela hora a que nós jantámos (entre as 8 e as 9).

É preciso dizer que existe uma minoria, normalmente pessoas mais novas, que chama "lunch" ao almoço e "dinner" ao jantar, mas não é de facto a regra por estes lados.

Para dizer a verdade, seria difícil de definir uma hora do chá para o comum dos britânicos pois... eles passam o dia a beber chá! De caneca em caneca quase da mesma forma como algumas pessoas fumam acendendo um cigarro com a ponta do cigarro anterior. Não é exagero! É por isso que uma das última vezes que ouvi  alguém perto de mim dizer às 5.30 "I'm having my tea now" imediatamente pensei "Qual é a novidade, passaste o dia a beber chá!" para dois segundos depois lembrar-me "Ah! Esse "tea"..."

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Fogo que queima a carteira!

Qual é a probabilidade de em Portugal alguém pagar para ir ver um banal fogo-de-artifício? E quando o valor a pagar é 7 euros para os adultos, 6 para as crianças e 22 para uma família com dois filhos? E, mais precisamente, quem pagaria estes valores (ou outros quaisquer) quando o mesmo fogo é visto do outro lado da “cerca”, a uns metros de distância, completamente à borla? Ah, e sem uma motivo de “caridade” muito concreto para justificar este pagamento. Quase zero? Bem, é o que nos parece. Mas se tivessem vindo a Bury St Edmunds no passado Sábado teriam mais uma prova de que existem diferenças culturais entre Portugal e o Reino Unido!

fonte: bury-st-edmunds.roundtable.co.uk

Cerca de sete...mil (!!!) pessoas, de acordo com os jornais locais, juntaram-se nos Abbey Gardens ao início da noite de Sábado para experienciar aproximadamente 20 minutos de fogo-de-artifício. Engarrafamentos e a quase impossibilidade de estacionar no centro provaram-nos o quão podemos ainda ser surpreendidos neste país. Ao ver aqueles preços, nunca nos passou pela cabeça aquele panorama.

fonte: buryfreepress.co.uk
Este espectáculo insere-se na tradição anual do Bonfire, que explicamos no blogue noutra ocasião. Ninguém leva o evento pirotécnico muito “a sério” (em termos de motivações) mas no fundo é uma espécie de “Dia do Orgulho Anglicano”. O que é realmente levado muito a sério é o aspecto lúdico do Bonfire. Em todos os cantos e esquinas encontramos “kits” de pirotecnia, para todos os orçamentos, para rebentar com o maior estrondo possível chegado o dia. É realmente impressionante, mesmo em pequenas vilas. Parece um ataque aéreo massivo! Perigoso? Sim, sem dúvida, pensamos nós, mas a realidade é que não se ouvem grandes preocupações com isto numa tradicionalmente "securitária" sociedade britânica!

fonte: burymercury.co.uk

Bem, mas para ser justo com o povo britânico, é muito raro ver fogo-de-artifício ao longo do ano. Vemos no Ano Novo em Londres e Edimburgo, mas pouco mais. Não é um país de “foguetes”. O que contrasta com o país do foguetório que somos, em que todas as terras e terrinhas, festas e festinhas têm de ter fogo-de-artifício para a celebração ser “como deve ser”! E então ouvimos foguetes “noite sim, noite não” de Junho a Setembro, o que diminui o “valor” dos foguetes e do espectáculo associado. É compreensível a excitação, mas daí a pagar 7 euros para ver fogo-de-artifício no céu que é de todos… ainda não estamos assim tão “british”!
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A velha York

York é uma importante vila do Nordeste de Inglaterra, capital de um dos maiores condados de Inglaterra: Yorkshire. Moram em Yorkshire (em cidades como Leeds e Sheffield) aproximadamente 5 milhões de pessoas, tantas como em toda a Escócia (!). É uma zona tradicionalmente industrial, não propriamente turística nem especialmente amigável (uma das áreas com maior taxa criminal no Reino Unido). A vertente industrial já foi bem maior e as consequências deste declínio são bastante visíveis. Mas como se enquadra a vila de York no contexto global de Yorkshire?

Perspectiva de York
York é um sítio à parte no contexto do condado. É uma pequena vila histórica, envolta numa muralha erguida no tempo dos Romanos e com raízes na invasão Viking (nesses tempos era conhecida como Jorvik). Encontramos lá também uma das mais importantes Catedrais de Inglaterra, ainda que isso não nos parecesse argumento suficiente para o elevadíssimo preço de admissão.

Catedral de York


York tem ainda uma excelente oferta de museus e é realmente preciso fazer uma selecção! Visitamos o museu ferroviário, que era de facto soberbo! Contíguo à estação de caminhos-de-ferro, contém uma quantidade e qualidade de equipamento e informação que permitiria a um verdadeiro aficionado horas e horas de deslumbre! Isto não é de todo surpreendente, face à posição pioneira que o Reino Unido teve na ferrovia e da paixão colectiva por comboios. Cereja no topo do bolo: é um museu em que não se paga admissão, logo não há mesmo desculpa para o falhar!



O museu ferroviário

Outro museu muito interessante é o Museu Viking. É um museu “vivo”, pois reflecte um trabalho contínuo de descoberta de uma vila Viking onde hoje é o centro da vila. As primeiras descobertas ocorreram nos anos 1960 e desde então muito trabalho tem sido posto na descoberta destas raízes e na catalogação dos achados. É um museu para toda a família, muito bem organizado e com muita informação transmitida de forma interactiva, o que o torna ainda mais interessante!

O museu Viking (Jorvik) - fonte: www.picturesofengland.com

O centro da vila é bastante pitoresco, plano como habitual, com ruas muito estreitinhas que fazem lembrar o Porto. A arquitectura é geralmente imponente, mas muito baseada no típico tijolo de Londres (“cor de burro”). A oferta de lojas é excelente e não fica de todo a dever às grandes cidades. Não nos pareceu uma vila cara em termos gerais, estará um pouco abaixo do nível de Cambridge.

Uma das concorridas ruas pedonais de York

Em suma, vale certamente a pena visitar York, nem que seja como ponto de passagem rumo a paragens mais nordestinas como o Lake District e a Escócia. Viveríamos lá? Bem, não se deve dizer “dessa água não beberei” mas o contexto social não é propriamente chamativo e é só por si um factor fortemente dissuasor para não morarmos por estas bandas… mas esperamos voltar um dia, quanto mais não seja para visitar os outros museus que não tivemos tempo de visitar desta vez!
 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

"Mais ou menos" ou "not too bad": Portugal e Reino Unido não parecem assim tão diferentes!

Em Portugal temos a noção que somos dos povos mais pessimistas pois frequentemente ouvimos as pessoas dizer "Como estás? Estou mais ou menos." Ou "vai-se andando".

Pois os ingleses não parecem assim tão diferentes! Quando se lhes pergunta"How are you?" geralmente respondem "not too bad", muito raramente "could be worse" e quase nunca "good, thank you. Yourself?". Mesmo que estejam de férias ou tenham recebido uma boa notícia. Seja face a face ou ao telefone (mesmo que pareçam felicíssimos ao telefone, toda a gente parece "adorar" receber chamadas!). Dizer "good, thank you" parece só reservado aos estrangeiros. O "not too bad" é mesmo um vício, aposto que a maioria dos que nos lêem e moram por estes lados concordam!

 O pior é que "not too bad" não parece querer dizer grande coisa: "podia estar pior" ou "não se vai (demasiado) mal"? São duas faces da mesma moeda que não tem necessariamente o mesmo impacto nos menos avisados (os estrangeiros, claro). A verdade é que, segundo eles, "not too bad" é suposto significar "está tudo bem". Dizem-no assim para serem muito "polite" (bem comportados) e não parecerem gabarolas ou não ferirem susceptibilidades...yeah, right!

 Nós por cá estamos sempre "good, thank you", pois se assim não fosse mais valia não estar cá!


quarta-feira, 28 de maio de 2014

O império da quinquilhice

Um dos grandes gostos do povo britânico são as compras/vendas em segunda mão ("pechinchas", está claro), particularmente velharias.

Não há terra nem terrinha que não tenha ao Sábado ou Domingo de manhã (pelo menos!) a sua feira de segunda mão ou feira de “mala do carro”, onde literalmente o pessoal chega, abre a mala do carro e vende tudo o que tenha a mais em casa. Isto para não entrarmos no assunto das lojas de caridade (aqui chamadas “charity shops”), a que voltaremos um destes dias.
 
O mercado da Bessemer Road em Cardiff (fonte: cardifflocalguide.co.uk)
O "car boot" do aeródromo de Rougham, à saida de Bury St Edmunds

Bem, mas a grande notícia nisto é o valor que se dá a estas coisas. Isto é mesmo um mercado a sério, onde se vende de tudo e mais alguma coisa, sendo que muita dela tinham de nos pagar muito bem para comprarmos. Mas vende-se! Dá que pensar quanto valerá a quinquilharia que temos lá por casa em Portugal! Há realmente pessoas muito empenhadas nisto, que vão de feira em feira e adoram “caçar” pechinchas para depois as revenderem. Isto é bem espelhado num programa diário da BBC à hora do almoço chamado “Bargain Hunt” (literalmente “caça à pechincha”). Neste concurso, duas equipas de duas pessoas (normalmente idosos) tem de ir a feiras e lojas de antiguidades/quinquilhice comprar/”marralhar” artigos que depois vão a um daqueles leilões que mais parecem os da polícia (objectos achados/roubados). Ganha no fim a equipa que conseguir ter mais lucro com a revenda dos artigos no leilão. A “ciência” com que as compras são feitas é de estarrecer, garantidamente perdíamos para quaisquer concorrentes! É notável chegar ao fim e verificar o valor pelo qual são arrematadas certas peças que nem dadas as queríamos em casa! Mas lá está, o caixote de lixo de uns é a riqueza de outros…

É realmente algo de apreciar aquando de uma visita ao Reino Unido. Se só vierem a Londres, uma versão refinada destes mercados é o chamado mercado de Portobello Road (no bairro de Notting Hill), principalmente aos Sábados. Vale bem a pena!

O mercado de Portobello Road em Londres (fonte: tripadvisor.com)

domingo, 13 de abril de 2014

Bury St. Edmunds: uma experiência verdadeiramente Britânica!

O Harriet's em Bury St. Edmunds

Esta imagem é de uma belíssima coffee shop que podemos encontrar em Bury St Edmunds chamada Harriet's. Podia de de muitas outras cidades e vilas tais como Cambridge, Stratford-upon-Avon, Windsor, York ou até March. Mas esta coffe shop é especial para nós e vamos neste post tentar explicar o porquê. 

Quando se pensa no Reino Unido ou em Inglaterra, uma das primeiras coisas que ocorrem é seguramente Londres. E apesar de ser uma cidade fascinante, carregada de história, imponência e vida (até demais!), não é, em nossa opinião, uma representação fiel do que é o Reino Unido ou viver no Reino Unido. Londres, até para o comum dos nativos das nossas bandas, é assim uma espécie de “ilha” dentro da própria ilha, onde tudo é em grande, para o bem e para o mal.

Porém, não é preciso andar muito para fora de Londres para perceber que a realidade do país é bem diferente. Por exemplo, quem já fez a ligação de autocarro ou comboio Londres – Aeroporto de Stansted sabe que logo ao fim de 10/15 minutos entra numa grande planície verdejante e é este o panorama até ao aeroporto. Isto resume em grande medida o que é o Reino Unido (excluindo a Escócia, que parece ser bem mais montanhosa, e partes do País de Gales): uma grande planície verdejante com algumas grandes e médias cidades pelo meio (Londres é à parte, mas também existem outras cidades bem grandes como Birmingham, Manchester e Liverpool) e salpicada de muitas pequenas vilinhas onde tudo acontece bem mais devagar. O Reino Unido é um país com uma matriz rural muito marcada, ainda que uma ruralidade bem mais instruída e evoluída do que a que o termo normalmente carrega. Se as casas são de bonecas, as propriedades são de perder de vista. Há gado por todo o lado, cavalos, coelhos bravos, esquilos… é um deleite para quem gosta de campo e de um estilo de vida mais pacato.

O Hengrave Hall
E é neste contexto que Bury St. Edmunds se insere: é uma vila de 40000 habitantes que tem um estilo rural e tranquilo mantendo quase tudo o que uma cidade precisa de ter. Tem uma zona histórica muito pitoresca, uma arquitectura tradicional bastante preservada, espaços verdes públicos muito bem cuidados e uma delimitação muito clara entre zonas comerciais e residenciais. O ambiente é bastante mais homogéneo do que em cidades como Londres (há estrangeiros, como nós, mas nota-se muito menos a mistura) e o comércio é muito mais baseado em lojas de rua independentes.

Estátua do Rei Edmundo junto aos Abbey Gardens
Panorama do centro da vila
Deste comércio independente salta à vista a quantidade e qualidade de coffee e tea rooms, onde se podem comer os tradicionais bolos ingleses à fatia (o bolo de cenoura, de limão, de caramelo e café, …) e scones recheados deliciosos, acompanhados por um bom pote de chá (com muitas qualidades à disposição) ou um "malgão" de café à inglesa.

Cream tea no Harriet's
Destas destaca-se o Harriet's. Mas que o tem o Harriet's de especial? Pois bem, para além da sua localização bem no coração de Bury St Edmunds, destaca-se pelos funcionários vestidos como manda a tradição, a decoração, o serviço, tudo isto nos faz sentir que somos príncipes e princesas a tomar chá com a Rainha!



É este, em nossa opinião, o ambiente e contexto que melhor representa o ordenamento e estilo de vida da maioria dos britânicos (se excluirmos Grande Londres e os seus 10 milhões de habitantes, 1/6 da população total). Portanto, deixamos aqui o convite para o comprovarem, saindo da “rota batida” de Londres e partindo em busca de uma experiência verdadeiramente Britânica!
 

domingo, 13 de outubro de 2013

Afinal sempre valeu a pena ir à feira da abóbora!

Agradecemos as sugestões que nos deixaram relativamente ao nosso post sobre a feira da abóbora, sobre a qual falamos aqui.

Apesar do aspecto interior da abóbora não ter sido o melhor - estava muito madura - veio-se a provar de boa qualidade! Para além de várias sopas de abóbora, fizemos também uma deliciosa compota de abóbora que dá vontade de comer às colheres (depois de quase uma tarde inteira a cozinhar na panela...). Mas sem dúvida que valeu a pena todo o trabalho! Aqui fica o resultado.

A nossa compota de abóbora, acompanhada com o melhor vinho, o Vinho do Porto

Pode ser que uns certos meninos ainda cheguem a tempo de a provar, afinal eles deram a sugestão do doce de abóbora! ;)

Infelizmente, a esmagadora maioria de abóboras como esta vão simplesmente ser usadas para fazer umas caretas de Hallowe'en e depois vão... para o lixo! É verdade! Foi esta a resposta que me deram o ano passado depois deste dia, pois não vislumbravam o que mais se poderia fazer com uma abóbora... ou seja: da mesma forma que para muitos o frango vem do supermercado, a abóbora existe para o Hallowe'en!... mais fica, dizemos nós!
 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Um Domingo diferente

Num dos Domingos deste brilhante Verão britânico (nunca é demais reforçar, temos de aproveitar enquanto dá!), fomos a uma pequena feira tradicional aqui bem perto de March, num parque público em Chatteris.

O Festival de Verão de Chatteris 2013
Era, por assim dizer, uma "mini-feira medieval". Mais apropriadamente, o tipo de feira em que muitos coleccionadores orgulhosamente "tiram o mofo" às suas colecções (de selos, medalhas, ferramentas, roupas e equipamentos antigos, ...) e as mostram num contexto de "viagem no tempo". Este tipo de feiras por cá é, portanto, menos comprometida com o negócio "puro e duro" e mais virada para o convívio, para beber umas cervejas e ouvir música local. Existem, claro, barracas a vender todo o tipo de artesanato (mais ou menos interessante) mas numa proporção bem menor às nossas "feiras medievais". Tendo dito isto, não estamos a advogar que estas feiras (e esta em particular) chegam sequer perto da Viagem Medieval de Santa Maria da Feira (saudades!...).

Recriação do faroeste com participação do público

Particularmente interessante de ver foi a componente de jogos tradicionais, tais como o "jogo da corda". Miúdos e graúdos a divertir-se com jogos supostamente "fora de moda" mostrou-nos que as boas tradições (ainda) são para manter!

O jogo da corda (fonte: chatterismidsummerfestival.co.uk)
Corridas de obstáculos tipo "Jogos Sem Fronteiras" (fonte: chatterismidsummerfestival.co.uk)

Outras atracções durante o fim-de-semana incluíram a já habitual falcoaria, uma parada, um concurso de beleza canina (!), uma competição de decoração de bolos e uma não tão habitual demonstração da Força Aérea (Royal Air Force): dois aviões sobrevoaram a baixa altitude o recinto da feira, para deleite geral. Sem dúvida, razões mais que suficientes para um belo dia fora!

Demonstração de falcoaria
Avião da RAF a sobrevoar a feira (fonte: flickr.com/photos/matthalmshaw)
Nota: este é o último post antes da partida para o nosso Portugal, para matar saudades e retemperar forças. O Meu Lado Solar volta em breve com todo o brilho e muito mais para contar!
 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Persianas, para que vos quero!

Um "pormenor" que salta à vista mal se chega ao Reino Unido, mas do qual nunca falamos aqui, são as persianas. Ou melhor, a falta delas!

Sem persianas nem cortinas: mais regra que excepção no Reino Unido (fonte: dailymail.co.uk)
Desde sempre fomos habituados, culturalmente, a ter persianas em casa. Com isso, protegemo-nos não só "visitas indesejadas" mas também da luz do dia quando nos deitamos. Isto é tão óbvio e banal em Portugal como o seu contrário por estes lados!

Por aqui não há persianas e, espanto dos espantos, frequentemente nem sequer cortinas! Não é fácil nos primeiros tempos adormecer com tanta luz e tê-la a entrar pela janela tão cedo, mas o hábito acaba por chegar. Quanto às cortinas, não é fácil tirar conclusões. Parece-nos evidente que o espírito de "coscuvilhice" no Reino Unido é bem menor que em Portugal. Mas o que nos parece mais é que, em geral, as pessoas estão-se "nas tintas" para o que os outros pensam delas ou sobre o que estão a fazer. Isso nota-se bem nas ruas: mesmo num sitio pequeno como March não faltam "seres extravagantes" e nem por isso as pessoas mais idosas param para ver. Ou se param, é para se rirem um bocado. Estão a ver isto em Portugal?

Não estamos a dizer que apreciamos especialmente a cultura do "quanto mais doido, melhor". Simplesmente, é uma forma diferente de encarar a vida. E só cá estando é que o poderíamos descobrir!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Abóbora, finalmente!

Foram precisos quase dois anos para encontrarmos por aqui abóbora para comer!! (as do Halloween não contam...)


Ora esta abóbora dá-se pelo sugestivo nome de butternut squash! E como fomos descobri-la?

Quando estivemos em Stratford-upon-Avon, fomos jantar a um restaurante britânico com inspiração na cozinha mediterrânea (uma muito boa escolha, por sinal). E um dos pratos que pedimos foi um risotto de butternut squash. Mesmo sem sabermos o que era (sabíamos apenas que era vegetariano), pareceu-nos bem um risotto. Enquanto picávamos as entradas, pesquisamos no google o que era e vimos que era uma abóbora!

Confessamos que a ligação arroz/abóbora não é a mais feliz, mas a parte boa é que finalmente descobrimos abóbora!

Não foram precisos muitos dias para descobrirmos à venda a butternut squash. E foi no Lidl que a encontramos. O Lidl é, definitivamente, dos supermercados mais interessantes por cá (na nossa perspectiva "europeia"): tem muito mais coisas do continente europeu do que qualquer outro dos supermercados "british", e com melhores preços. Não éramos grandes fãs do Lidl em Portugal, mas aqui ficámos convertidos! E qual foi a grande surpresa?


É verdade, Made in Portugal! Depois disto, ficamos intrigados, pois nunca tínhamos visto destas abóboras em Portugal. Mas era mesmo defeito nosso, pois já as comemos muitas vezes! Ora, a butternut squash é a "nossa" abóbora-menina ou, para muitos, abóbora-bolina!

A abóbora-menina/bolina por dentro
A verdade é que esta abóbora é mais usada em Portugal para doçaria. Mas para nós, passa a ser a abóbora da sopa! É o fim do reinado do swede cá em casa, um sucedâneo de abóbora que é um híbrido de nabo e couve. O nome swede tem a ver com a Suécia: é o acrónimo de Swedish turnip (nabo sueco).

O swede (fonte: visualphotos.com)
Ia dando para o gasto... mas não é a mesma coisa!

Não é que descobrir uma abóbora seja uma grande coisa, mas realmente este é mais um exemplo de como simples coisas que tomamos por garantidas em Portugal... afinal não o são!
 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A casa de Shakespeare!

No último fim-de-semana fomos a Stratford-upon-Avon, uma pequena bela cidade bem no centro de Inglaterra.

Pormenor de um barco atracado no centro de Stratford-upon-Avon
E o momento não podia ter sido melhor! Celebrou-se nesse fim-de-semana o dia nacional de Inglaterra, o St. George's Day. Visto não ser feriado, este dia celebra-se no fim-de-semana mais próximo, que coincidiu com o passado fim-de-semana. Ora, acrescido a isso tivemos ainda a celebração do filho mais famoso desta terra tão britânica: William Shakespeare!

Estátuas de Hamlet, em primeiro plano, e de Shakespeare, atrás
O nome máximo da literatura inglesa nasceu, viveu e morreu em Stratford-upon-Avon. O dia de celebração anual de Shakespeare coincide com o dia nacional de Inglaterra, 23 de Abril. Precisamente a data da sua morte, em 1616. Pois então, que sítio melhor haveria para estar neste fim-de-semana?

Uma "praia" à britânica
Stratford-upon-Avon é uma cidade bem compacta cruzada, como o próprio nome diz, pelo rio Avon. Desenganem-se, porém, se pensam que isto é meramente uma cidade para turista ver. Naturalmente estava engalanada para o momento, mas não é a típica cidade de lojas de bugigangas "porta-sim, porta-não". É uma cidade com vida própria, perto de grandes centros (Oxford é a menos de uma hora, Birmingham, a segunda cidade do Reino Unido, é ainda mais perto), genuína.

Royal Shakespeare Theatre
Uma das ruas comerciais
Mas Shakespeare é sem dúvida o "alfa e o ómega" desta cidade. As grandes atracções são precisamente as propriedades que lhe pertenceram (e à família directa), bem como a Igreja onde foi baptizado, possivelmente casou e onde está ainda hoje sepultado, junto aos seus.

A Holy Trinity Church, onde Shakespeare foi baptizado, terá casado e está sepultado
O altar-mor, onde está sepultado Shakespeare e família directa
A sepultura de Shakespeare
As propriedades (seis) de Shakespeare estão bem mantidas e geridas, pelo menos exteriormente. Não podemos comentar por dentro, pois infelizmente não fomos a nenhuma. Isto porque soubemos tarde demais que o bilhete para visitar as casas é único: não se pode visitar uma casa isoladamente. Daí, achamos que não ia ser dinheiro bem empregue dado o pouco tempo que tínhamos. No entanto, este bilhete tem a vantagem de ser válido por 12 meses, para todas as casas e de permite visitas ilimitadas. É natural que também seja pessoal e intransmissível, mas não confirmamos.

A casa onde Shakespeare nasceu
A casa onde Shakespeare viveu os seus últimos anos
A quinta onde viveu a esposa de Shakespeare, Anne Hathaway, enquanto solteira
O tempo ajudou bastante e vimos a cidade repleta de gente e animação. É mais uma descoberta no Reino Unido (para nós, claro!), que recomendamos vivamente. Esperamos voltar!

O mercado tradicional, junto ao rio
Uma banda em cortejo, nos festejos oficiais
O rio Avon
O relógio-torre de Stratford-upon-Avon