terça-feira, 25 de março de 2014

Ir ao dentista no Reino Unido: a experiência "TAP" (parte 3)

Depois de termos vivido a experiência “Ryanair” dos consultórios dentários, seria injusto não mencionar a experiência “TAP” (ou outra operadora aérea que gostem). Até porque desmistifica algumas coisas que dissemos no outro post.

Por não querermos voltar a ficar sem tratamento em caso de “crise”, uma das primeiras coisas que fizemos ao chegar a Bury St Edmunds foi registarmo-nos num dentista. Ao pesquisar no site do serviço nacional de saúde (NHS) por consultórios locais, voltamos a dar prioridade aos que atendessem pacientes do NHS. Isto é, em que o Estado paga uma parte e os pacientes só pagam a “taxa moderadora”. A esperança disto acontecer na prática era pouca, visto que tínhamos feito o mesmo em March

Ao chegarmos ao consultório e termos expresso a intenção de nos registarmos, tivemos de marcar de imediato uma primeira consulta de diagnóstico e colheita de histórico dentário. É o habitual nestas coisas. Contudo, a data mais próxima para isto era um mês e meio depois! Pois que seja, dissemos nós, pois não havia qualquer pressa. À saída, não pudemos deixar de reparar no preçário: o absurdo habitual e à moda “Ryanair”, tudo à parte. Por que raio, perguntamos nós, uma consulta de diagnóstico não há-de ter um preço fixo (pois é evidente que têm de existir raios-X, porque é que se pagam à parte numa consulta deste tipo)?

Chegado o dia, as primeiras impressões foram boas. O consultório tem muito boas condições e o tempo de espera foi quase nenhum. A dentista era muito simpática e demorou realmente o tempo necessário para perceber o nosso histórico dentário. Fez alguns raios-X, deu alguns conselhos e terminou com a habitual limpeza (um pouco a fugir, diga-se). E esta dentista tinha “copinho com água” no fim, não foi tudo a seco como em March (muito desagradável!). No fim, disse-nos para marcarmos consulta no ano seguinte, a menos que algo surgisse no entretanto. Ao chegar à recepção para pagar, a surpresa: só 18 libras! Afinal há mesmo dentistas convencionados com o NHS! As taxas que tínhamos visto anteriormente referem-se a consultas "privadas", isto é, pagas através de seguros de saúde (logo os preços diferentes!).



18 libras corresponde ao chamado patamar 1 de consulta dentária do NHS: cobre consultas de rotina, raios-X, limpezas dentárias… O patamar 2 refere-se a tratamentos mais específicos como desvitalizações e o paciente nestes casos paga 49 libras por tratamento (mesmo que seja em 2 ou 3 sessões). Existe ainda o último patamar, que inclui coroas e implantes e aí o valor a pagar pelo paciente é 214 libras (também por tratamento). De referir que em casos especiais o paciente está isento de pagamento para qualquer tratamento: menores de 18 anos, grávidas e mães há menos de 12 meses, etc.

Depois de termos pago mais de 60 libras por consultas equivalentes em March, foi realmente com muito gosto que pagamos 18 libras. E com um tratamento muito melhor! Portanto a mensagem fica lançada: há mesmo dentistas que cobram as taxas do NHS, não é mito! Não deve haver muitos e é possível que estejam em extinção. Mas são como as bruxas: que os há, há! (caso alguém esteja interessado em saber qual é, é só pedir nos comentários!)
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

"Tenho 30 anos e moro com os meus pais. Serei normal?..."

Esta pergunta do tipo "Dra. Ruth" resume o que esteve em discussão esta manhã na rádio local, que pude acompanhar a caminho do trabalho. O animador fez o seguinte pedido/convite: ouvintes que tivessem filhos entre os 20 e os 34 anos que ainda morassem com eles, que ligassem para o programa a relatar a sua experiência, nomeadamente se não sentiam falta de ter o seu espaço como casal. Isto porque aparentemente nos últimos dois anos disparou no Reino Unido o número de casais cujos filhos têm entre 20 e 34 anos e ainda moram com os pais. Surpreendidos?! Nem por isso, não é? Afinal esta é a realidade que encontramos em Portugal (pelo menos nas zonas mais urbanas).

Ao contrário do Reino Unido, em Portugal é relativamente comum os filhos viverem em casa dos pais até estes terem 30 anos (ou mais!). E isto não é mal visto pela sociedade, pois são raros os jovens adultos que hoje em dia conseguem arranjar trabalho depois de terminado o seu percurso no ensino superior. E aqueles que conseguem arranjar trabalho, é um trabalho bastante precário e que não dá para serem financeiramente independentes da família. Por outro lado, talvez o típico jovem português seja mais ambicioso que o típico britânico, que faz as malinhas e vai viver por conta e risco para fazer o que aparecer em vez de prosseguir os estudos. Deste modo os pais portugueses, cientes de dificuldades passadas e querendo o melhor para os seus filhos, vão alimentando esta ambição mesmo à custa de grandes sacrifícios.

Ainda assim, diferenças culturais à parte, temos de ser justos: a esmagadora maioria dos pais britânicos pode trabalhar a vida toda e fazer todos os sacrifícios que dificilmente conseguirá pagar (sem um belo empréstimo...) o valor de propinas por estes lados de um mero curso de três anos: entre 9 e 11 mil euros por ano para estudantes da UE e caso sejam fora da UE o valor sobe, e bem!! Estes valores dispararam em 2012. Imaginem os valores para mestrados... E isto esquecendo as outras despesas associadas! Esta grande diferença de custos pode assim justificar em parte o facto de relativamente poucos jovens britânicos irem para o ensino superior mal fazem os chamados A-levels, exames equivalentes aos exames nacionais em Portugal, e ingressarem no mercado de trabalho. E depois claro quando eles começam a ter alguma estabilidade financeira, não a querem largar e ficam com o que têm em vez de lutarem por mais. Mas não os podemos julgar pois os seus pais quando eles fazem 18 anos põem-lhes as malas à porta e dizem para eles irem à vidinha deles. Pelos menos, é o que faziam até há pouco tempo e parece agora estar a mudar...

Tenho muita sorte por ter nascido em Portugal e ter uns pais maravilhosos, aliás sem eles jamais teria conseguido chegar onde cheguei. OBRIGADA!!!
 

domingo, 19 de janeiro de 2014

"Passou-bem"... ou não!

É de conhecimento geral que os portugueses são vistos como um povo hospitaleiro pelos que nos visitam! Esta afirmação só faz sentido na existência de um ou vários pontos de comparação. É que, por sua vez, os povos do Norte da Europa são vistos como frios e pouco amigáveis a quem vem de fora.

No caso dos britânicos, pensamos que não é bem assim: são um povo mais acolhedor considerando a maioria dos que tivemos e temos o gosto de conhecer, seja através de viagens ou conhecimento pessoal. São regra geral abertos a conhecer o outro e isso é o primeiro passo do acolhimento. Mas isso não significa que não haja diferenças bem vincadas!

As diferenças começam no cumprimento: muito raramente temos apertos de mão ou beijinhos (e só um, se houver). Abraços, ainda menos! Aqui normalmente só existem estes cumprimentos "formais" quando as pessoas se conhecem ou após uma longa ausência. No dia-a-dia, não há cumprimentos para além um "bom dia" ou "boa noite" (se tivermos sorte, pois há muita gente que entra e sai como se nada fosse ou ninguém estivesse lá...). Esta é uma marcada diferença cultural, que não tem muito a ver com ser-se muito ou pouco educado: é como é. Fomos criados de forma diferente e estranha-se bastante ao início, mas passa, ou não fossemos portugueses!

Ainda assim notamos diferenças quando comparando as regiões do Reino Unido onde vivemos. Por exemplo, no País de Gales é comum as pessoas meterem conversa no autocarro ou à espera dele na paragem, principalmente as pessoas de mais idade, fazendo conversa sobre o tempo ou sobre o seu destino naquele dia. Já em Inglaterra isso não se nota, chegando mesmo a "tocar" a indiferença pois ninguém quer saber da vida do outro (e isso pode ser bom ou mau, claro). Estilo de vida ou diferenças na educação são duas explicações possíveis para estas diferenças. Mas claro que nós estranhamos esta mudança quando viemos morar para Inglaterra. Mas já encontramos por aqui excepções (sem a influência do álcool!), pois aqui toda a gente é muito amigável depois de alguns pints de cerveja!E certamente a maior parte das pessoas interessa-se, têm sim uma forma diferente de o demonstrar.

Também, devido ao facto das pessoas praticamente não comerem durante o dia, não há aquela desculpa da pausa de almoço, em que as pessoas se juntam e falam (de trabalho ou não). Portanto, cada um encontra o ritmo ou altura certa para comer qualquer coisa e depois retoma ao serviço. Isto é mais ou menos comum a todos os sectores de actividade por aqui! Sejam lojas, escritórios, universidades, hospitais, ... é assim. Isto estende-se às pausas para café, que por cá não existem, visto que a toda a hora é hora de café e chá (canecas bem cheias, claro). Isso é que é mais difícil de nos habituarmos, ai o nosso cafézinho...

Ou seja, não há aquele contacto mais "amigável" durante o dia, como há em Portugal (o que nem sempre é bom, como sabemos). Mas nunca pior. Ao fim de algum tempo já nem se pensa nisso! Mas isto não significa conformismo. Bem gostávamos que fosse diferente, mas como a nossa terra... só a nossa terra!